O vendedor de passados

Dez anos depois de ler um livro de Jorge Luís Borges, José Eduardo Agualusa lembrou-se de uma passagem do livro que lhe serviu de inspiração e mote para escrever "o vendedor de passados". Aparece logo no início do livro: "Se tivesse de nascer outra vez escolheria algo totalmente diferente. Gostaria de ser norueguês. Talvez persa. Uruguaio não, porque seria como mudar de bairro"
A apresentação deste livro coube a António Lobo Antunes que enalteceu rasgadamente o talento do, segundo ele, melhor escritor da sua geração e de muitas outras gerações.
O que eu não dava para poder ter visto o sisudo e mal humorado do Lobo Antunes prestar-se a tal eloquência.
Duas passagens:
"A realidade é dolorosa e imperfeita" dizia-me, "essa é a sua natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. Quando algo nos parece muito belo pensamos que só pode ser um sonho e então beliscamo-nos para termos a certeza de não estarmos a sonhar - se doer é porque não estamos a sonhar. A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros."
"A verdade é improvável." (...) "A mentira, explicou, "está por toda a parte. A própria natureza mente. O que é a camuflagem, por exemplo, senão uma mentira? O camaleão disfarça-se de folha para iludir a pobre borboleta".
Enfim, um livro a reler novamente...
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