Luz e Sombra

Friday, December 09, 2005

DT Dezembro - Um Conto de Natal


- Mãe, conta-me outra vez do Pai Natal. É verdade que ele vem do Pólo Norte?
- Sim, querida, vem do Pólo Norte num trenó puxado por renas. É ele que traz todos os presentes para os meninos e meninas, mas só para aqueles que se portarem bem!!
- Não sei se acredito, mãe.
Carolina calou-se, pensativa. Luísa levantou os olhos do livro que estava a ler, temendo que a sua filha tivesse perdido a fé no Pai Natal, como acontece a todas as crianças um dia. A sua filha era uma privilegiada, considerava ela, porque já tinha oito anos e ainda acreditava no Pai Natal. Metade dos seus amiguinhos já sabia que o Pai Natal não existia, mas Luísa tinha conseguido convencer a sua filha de que eles estavam enganados, com a ajuda do marido João. Todos os anos se disfarçava de Pai Natal, e fingia entrar sorrateiramente na casa, deixando os presentes na sala, ao pé da árvore. Luísa fazia com que Carolina tivesse apenas um vislumbre do homem de barbas brancas vestido de veludo vermelho, deixando-a completamente convencida de que o Pai Natal existia mesmo, apesar de tudo o que os colegas lhe diziam na escola.
- Porquê, filha? Não o viste no ano passado? Olha, tiveste muita sorte, os teus amigos não o vêem porque não são rápidos o suficiente para o apanhar…
- Não, mãe, não é isso… O Pai Natal não sabe se os meninos são bons ou não… Essa é que é essa…
- Porque é que dizes isso?
- Mãe… o João Paulo recebe todos os anos presentes lindos, mas ele é mau! Está sempre a bater noutros meninos, e pensas que o Pai Natal se importa?! Não. Eu não sei se quero receber mais presentes do Pai Natal… Parece-me que ele não é justo. Porque a Matilde, por exemplo, é uma menina sempre bem-comportada, mas nunca recebe prendas tão bonitas como o João Paulo. Como é que isto pode ser?...
Luísa ouvia a sua filha discursar sobre a injusta distribuição de presentes levada a cabo pelo Pai Natal e sentiu um misto de orgulho e de piedade da sua filha. Se calhar, a bem da sua saúde mental, devia deixar Carolina descobrir a dura realidade, de que os meninos recebem os presentes que os pais lhes podem ou querem dar.
- A não ser… que não seja o Pai Natal quem dá os presentes ao João Paulo… - uma luz acendeu-se nos olhos de Carolina.
- Filha… - começou Luísa.
- Já entendi tudo!! Ele é tão mau que o Pai Natal não lhe traz presentes, por isso têm de ser os pais dele a comprar aquelas coisas todas! Por isso é que a bicicleta que a Matilde recebeu tinha um aspecto tão enferrujado… Como não, se veio do Pólo Norte até aqui??? Não é, mãe? – rejubilava Carolina, contente com a sua teoria.
- Sim, Carolina, deve ser isso… Não consigo ver outra explicação.
Só mais um ano, pensou Luísa… Qual é o mal de querer fazer magia para uma criança?

3 Comments:

  • Ouvi dizer que o Pai Natal vem da Lapónia, Finlândia...
    Aqui na Holanda temos o São Nicolau, eu sempre pensei que eles fossem a mesma pessoa (Sinter Nicolaas em holandês, diminuitivo Sinter Claas, Santa Claus na América, este último o equivalente ao Pai Natal, acho).
    O Sinter Claas aqui vem da Turquia, e tem um aspecto diferente, tipo bispo, embora não lhe faltem as barbas brancas e a roupa vermelha - esta, no caso do Pai Natal ou Santa Claus, impingida, segundo consta, pela Coca-Cola).
    Mas que confusão!
    Eu continuo a achar que os dois são apenas um, e que se acabaram por misturar ao longo dos séculos.
    Um amigo meu contou recentemente ao seu filho de sete anos que o São Nicolau não existe. O puto fartou-se de rir. Disse aos pais:
    - Oh! Vocês são mesmo queridos! Então eram vocês que me compravam as prendas?
    E depois acrescentou:
    - E também compravam as prendas para os outros miúdos todos? Que queridos!
    Os pais pediram-lhe, todavia, que não contasse nada aos amigos na escola, e ele prometeu que não contava.
    Claro que no dia seguinte contou aos melhores amigos, que ficaram muito espantados, e não acreditaram nele.
    Mas como é que a mesma pessoa vêm de tanto sítio ao mesmo tempo? Turquia, Pólo Norte, já ouvi dizer Espanha, Holanda, Lapónia... Eu aposto que o homem existiu, e cada país arranjou a sua própria história. Quem conta um conto, acrescenta um ponto...

    By Blogger aquelabruxa, at 12:32 PM  

  • Qual é o mal de querer fazer magia para todos?

    By Blogger aquelabruxa, at 12:34 PM  

  • ainda não tinha lido :x está tão fofo, vê-se assim a inocencia e o carinho nos olhos das personagens :) *

    By Blogger Perséfone, at 5:09 PM  

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