Luz e Sombra

Tuesday, January 18, 2005

Dependência

O objectivo do ser humano é (ou devia ser!) crescer mentalmente e espiritualmente neste jogo que se chama vida. Acontece que quando alguém descobre esta verdade e começa verdadeiramente a entrar no seu próprio processo evolutivo é, às vezes, impedido de continuar devido à dependência afectiva que gerou por outra pessoa. Uma das definições de dependência que me parece mais acertada é a sugerida por Scott Peck. Este define a dependência como “a incapacidade de se sentir realizado ou de agir adequadamente sem a certeza de que se é motivo de cuidado por outra pessoa”. Devemos distinguir a dependência patológica da dependência saudável e indispensável a todo o ser humano. A primeira é doentia e manifesta um problema mental. A segunda apenas revela que todos nós temos carências afectivas e gostamos de ser acarinhados pelos outros assim como que tomem conta de nós. Felizmente estas necessidades não regem e não são responsáveis pela nossa qualidade de vida. Caso contrário seríamos todos dependentes passivos.Outra ideia generalizada e enraizada é que dependência é amor. Nada mais errado! Ouvimos frequentemente o marido dizer que não conseguiria viver sem a mulher ou que se ameaça suicidar se for rejeitado pela amante. Isto não é amor é parasitismo. “Quando precisa de outra pessoa para a sua sobrevivência, é um parasita dessa pessoa. Não existe escolha nem liberdade na vossa relação. É mais uma questão de necessidade do que de amor. O amor é exercício da escolha livre. Duas pessoas sentem amor uma pela outra quando são capazes de viver uma sem a outra mas escolham viver uma com a outra.”As pessoas dependentes passivas estão tão empenhas em sugar o outro para se sentirem amadas que não lhes resta sequer energia para amar verdadeiramente. O seu interior é um poço sem fundo que tentam desesperadamente encher com outra pessoa. Não suportam a solidão, falta-lhes sempre qualquer coisa e nunca se sentem realizadas. Estabelecem relações muito superficiais, embora vividas intensamente, porque facilmente sufocam a outra pessoa que se sente apertada, asfixiada, sem espaço. Por vezes fixam-se de tal maneira nos outros que começam a ter comportamentos anti-amor e a tomar atitudes manipulativas, maquiavélicas, tudo para não deixarem fugir a outra pessoa. Devido à sua sede de atenção tornam-se desonestos e agarram-se a relações desgastadas quando as deviam renunciar. Os dependentes passivos quando finalmente são rejeitados pela pessoa que asfixiaram mudam rapidamente o seu foco de atenção para futuras vítimas porque não interessa de quem dependem desde que dependam de alguém. Deste modo saltam de pessoas em pessoas e consequentemente de relações desgastadas e esgotadas para outras que vão acabar da mesma maneira. Tudo isto gera um ciclo vicioso do qual muito dificilmente se sai. É preciso na maior parte dos casos pedir ajuda especializada de forma a conseguirem disciplinar rigidamente a ansiedade de que sofrem. O amor e a segurança são adquiridos pelo preço da liberdade de forma a permitir o desenvolvimento de ambos os indíviduos. “Um bom casamento só pode existir entre duas pessoas fortes e independentes”.
Para acabar vou deixar-vos uma das melhores citações que já li sobre a dependência.
“Olhe, permitir-se ser dependente de outra pessoa é a pior coisa possível que pode fazer a si mesmo. Estaria melhor se fosse dependente da heroína. Enquanto estiver fornecido, a heroína nunca o deixa ficar mal; se lá estiver, fá-lo-á sempre feliz. Mas se está à espera que outra pessoa o faça feliz ficará interminavelmente desiludido”.

4 Comments:

  • Sim, eu também já passei por fases de enorme dependência dos outros... mas sem sequer saber o que era isso! quase que sufocava os meus amigos, exigindo-lhes a sua atenção constante e permanente!

    By Blogger Eduarda Sousa, at 10:36 AM  

  • http://www.focusas.com/Howisyourchild.html

    Cá está a utilização actual na comunidade psicoterapeutica do livro analisado. Como podem reparar, apesar da forte influência budista do livro original, todo o trabalho posterior de S. Peck foi de forte activismo católico, desembocando na apropriação por comunidades extremistas do seu trabalho. A não abstracção do seu trabalho levou a que nunca fosse elaborada uma teoria ou sequer uma prática terapeutica a partir do seu livro.

    Mas como já disse em relação aos livros de PEdro Paixão, desde que haja um leitor que beneficie de uma leitura, há-de haver uma justificação para a escrita de um livro... ; )))

    By Blogger noiseformind, at 1:12 AM  

  • desculpem entrar assim logo a pedir ajuda mas estou um pouco desesperado.....até hoje nunca compriendi a minha mãe até me informarem que ela poderia sofrer de dependencia passiva. já devorei o livro do Peck e tudo encaixa que nem uma luva na personalidade da minha mãe....adoro-a e custa muito não ter a quem recorrer para a ajudar...alguem conhece um terapeuta que lide com dependencia passiva para ajudar a minha mae? agradecia contactops para filipemadureira@hotmail.com. obrigado pela ajuda

    By Anonymous Anonymous, at 8:31 PM  

  • Preciso conversar com você.
    Por favor me add ou mande seu email. Vou te escrever o meu e espero um contato. Por favor... bxg17@yahoo.com.br

    By Blogger UniMultiplicidade, at 6:49 PM  

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