Luz e Sombra

Tuesday, January 11, 2005

"Ninguém vai fazer isto por mim"

-Excertos de uma entrevista a Gonçalo M. Tavares no Mil Folhas de 08 de Janeiro 05-

Força, solidão, confiança. Gonçalo M. Tavares passou 12 anos a acordar às cinco e meia da manhã para escrever, sozinho.

Parece haver uma certeza cristalina, imediata, na forma como impede a dispersão. Isso implica um reconhecimento rápido do que interessa.
(...) Há uma inteligência ou um instinto, que tem a ver com isto: faz sentido eu mobilizar a minha inteligência para aqui? Acho que este é o instinto principal. Dizer muitos "nãos" e dizer um ou dois "sins" claramente. Desde os 18 ou 19 anos, disse um "sim", e tudo o resto são "nãos".

O seu "sim" dos 18, 19 anos foi o da escrita.
Da escrita, da leitura.(...) É importante defendermo-nos das urgências. Temos de ter uma metralhadora, de dizer o "não" com uma arma apontada para a pessoa, que até pode de estar de boa vontade, perceber que o nosso "não" é forte. Saber dizer o "não" também é saber defendê-lo, e estar preparado para sofrer as consequências.

Qualquer pessoa poderá partilhar o que diz. Mas o que parece invejável é como tão cedo soube qual era o "sim", e depois o defendeu com disciplina.
É a consequência do "sim". Não adianta dizer "sim" sem autodisciplina – será um "sim" pequeno.

"Nada de religioso, nenhum Deus", é estar sozinho, vivo. Esta consciência: tudo depende de mim, da minha força.
Sim, ter a noção de que ninguém vai fazer isto por mim. É muito difícil uma pessoa aos 20, 21 anos levantar-se cedo. Tem a ver com força e solidão. Se uma pessoa depende de alguma coisa exterior, perde a força. Estou a falar em termos de escrita, de leitura, não da vida pessoal. Se eu dependesse de alguém me dizer, aos 21 anos, "gosto muito dos teus textos", estava a colocar a possibilidade de continuar nas mãos daquela pessoa. Fiz grande parte do meu percurso de escrita totalmente sozinho.

Por que diz que ultimamente se sente indisciplinado?
Uma coisa é escrever, outra é voltar a olhar, e há sempre um intervalo muito grande entre ambas.(...)

O que me angustia é gastar energia e no final ir embora e não ficar nada. (...)

Respeito muito os filósofos, mas os filósofos querem encontrar o caminho. A mim interessa-me encontrar uma série de caminhos, as ideias não como hipótese de verdade mas como hipóteses.

Está a juntar na mesma massa competências técnicas, fáceis de avaliar, com competências artísticas, com a criação.
Claro, mas em qualquer área se uma pessoa não tem confiança no que faz não é possível fazer coisas interessantes. Como é que se arrisca? Arriscar tem a ver com confiança. Uma pessoa sem confiança vai tentar repetir, fazer igual aos outros, não cometer erros, que é uma ideia muito valorizada. Mas o erro está ligado à descoberta. É fundamental não ter medo nenhum do erro. O que é o erro? Eu tinha previsto ir numa determinada direcção e não fui, errei. O erro é encontrar alguma coisa, algo que se cruza com o novo, o criativo.

1 Comments:

  • ele é realmente uma máquina, por isso leio-o e deito fora, ofereço a outrém, faço qualquer coisa mas não permanece em mim, pq não gosto e ponto final, não me cativa, n me interessa, ainda há dias tava aqui o pessoal a bater no Pedro PAixão e este cromo só pq começou pela poesia já é o novo Camões. Ainda há dias falava com Migel Sousa Tavares e ele dizia-me que o mundo literário português é assim: ser filho de um jornalista crítico de literatua dá um jeitaço pra ser escritor, para mais se se tem o tio na Gulbenkian... enfim... mas pronto, a existência de qq escritor é justificada pela existência de alguém que tira prazer da sua leitura, seja qual fôr o escritor.

    By Blogger noiseformind, at 4:40 PM  

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