Anita dos Cabelos Dourados - 500 palavras
"Desta vez, um conto pseudo-infantil-experimental." Mais uma vez obrigado João, é com muito prazer que publico o conto.
Anita era uma boneca de lã. Vivia no mundo dos sonhos, e lá era feliz. Um dia Anita foi parar às mãos de Mimi. Todos os bonecos tinham este destino um dia – só não sabiam era quando.
Mimi tinha três anos e outras bonecas de eleição. Não seria fácil para Anita ganhar a confiança de Mimi, para se tornar a sua melhor boneca. Anita tinha uns olhos azuis muito grandes – bordados à mão, fios de cabelo dourados, as faces rosadas e um lindo vestido verde com flores e um bolso grande no meio.
É incrivelmente difícil viver no mundo dos meninos de três anos. No infantário, quem tem barbie é Rainha quem tem carrinhos da polícia é Rei. Mimi – com base na sua larga experiência de vida – sabia que Anita não iria ser bem aceite nas reuniões semanais da corte do infantário. Sabia que iam acusar Anita de ser apenas uma plebeia – não era digna de privar com a nobreza, a não ser que fosse para os servir.
Sim, podem achar uma tolice, mas isso é porque não têm três anos. Quando tinham três anos preocupavam-se muito com a escolha da boneca certa, arrepiavam-se só de pensar que a Maria Francisca podia levar uma boneca igual à vossa. Não acreditam porque não se lembram. Mas provavelmente não se lembram de nada, ou de muito pouco, dos vossos três anos.
As reuniões eram todas as quintas, depois da sesta. Fantasiavam chás exóticos com banais pacotes de leite achocolatado, e os bolos eram tratados como biscoitos. – Não, não estou a exagerar. Os meninos aos três anos são os melhores observadores do meio envolvente. É pena esquecerem-se disso ao festejarem o quarto aniversário.
Na primeira quarta-feira, depois de ter Anita, Mimi teve de tomar uma escolha difícil. Apesar de Anita ser a boneca preferida de Mimi, apesar de só a ter há três dias, Mimi não podia levar Anita para as reuniões.
Lacrimejando, e afagando os cabelos de Anita, Mimi disse-lhe que teria de escolher outra boneca – que não a podia levar para a reunião – ou as amigas iam gozá-la, ou pior: ignorá-la. Por um momento, Mimi diria que viu Anita a deixar cair uma lágrima. Ao acordar, Mimi reparou que Anita não se encontrava ao sei lado, onde tinha adormecido. Alarmada, começou a procurar a sua boneca por toda a casa, e encontrou-a no chão da casa de banho – mal pintada de baton da mãe de Mimi. Perante este cenário, Mimi pegou na sua boneca, limpou-lhe a cara e decidiu levá-la para a reunião. Apercebeu-se que estava a ser egoísta. Mimi e Anita eram amigas, e se as outras meninas não quisessem aceitar isso, ela não se importava. Anita surpreendeu toda a gente com a sua cultura. Citou autores como Soapbuble ou Algodão Doce, deixando todos boquiabertos. Mostrou a toda a gente que ser de plástico não é um posto. Provou que a amizade e a imaginação são bem mais úteis, com três anos ou com muitos mais.
Jõao Martinho - Voando à Deriva
4 Comments:
Sim, por acaso lembro-me bem de quão intrincados eram os meandros das relações no infantário... Bonito texto!
By smallworld, at 11:13 PM
Olá Sam/João. Fez-me lembrar algo de Alice in Wonderland o teu texto. MAS devo alertar-te para o facto de só ter 496 caracteres... Sei que numa situação normal era uma mesquinhice, mas jogo é jogo, e aqui quebras-te a única regra que havia! Vale-te a grande qualidade dos teu textos como desculpa ;) mas não te distraias para a próxima!
By Der Überlebende, at 1:29 AM
ok. perdi o jogo, então.
de facto passou-me despercebido porque, quando verifiquei no contador de palavras do processador de texto, tinha já escrito o título. Isso aconteceu porque eu alterei o último para parágrafo e esqueci-me, então, que as palavras incluíam o título.
By joão martinho, at 10:57 AM
Levaste um cartão amarelo na tua segunda jornada, n perdeste o jogo, de modo nenhum, e o campeonato (como se isto algum dia se tratasse de uma competição...) continua! Aliás, um jogador da tua craveira é fundamental para gáudio do público nas bancadas. Cá ficamos à espera da tua proxima jogada!
By Der Überlebende, at 3:02 PM
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