Conta-me a maior desilusão da tua vida; 500 palavras para um blog, by Stela
Foi com enorme agrado que receby esta contribuição da Stela para o "Desafio 500". Aqui vai:
- Conta-me a maior desilusão da tua vida.
Os olhos dela pediam-lhe. Mas a mão brincava com o anel de prata que trazia, e Jaime não teve vontade lhe contar a maior desilusão da vida dele.
- Não sei… Todos temos desilusões. As minhas são iguais às de toda a gente, nem maiores nem menores…
- Foi uma rapariga? – disse ela com um sorriso coquete nos lábios. Jaime detestou aquele sorriso, deu-lhe vontade de lhe esfregar lama na cara. No entanto, ficou ali, a observá-la enquanto ela contava a sua maior desilusão, algo sobre um rapaz de quem gostara e que a enganara. «Banal…», pensou.
- Coitada. Deves ter sofrido muito…- disse em voz alta.
- Fogo, se sofri. Até chorei, vê lá. Mas agora já não choro por ninguém, acho que os homens não são merecedores disso!
- Claro, percebo… Criaste couraça – ouviu-se a si próprio dizer.
Ela continuou, absorta na sua dissertação sobre os homens, enquanto ele a olhava entre o fascínio e a repulsa. Como era estúpida, as pulseiras chocalhando com cada exclamação que fazia, e puxando irritantemente o cabelo para trás da orelha, depois de passar a mão por todo o cabelo, deixando antever caracóis castanhos repletos de suavidade. Sorria, a ponta da língua a espreitar por entre os lábios, se achava algo engraçado, mas o olhar era como o de uma gata molhada a tentar manter a dignidade. Brilhante, arrogante, mas frágil, a estalar hipocrisia.
- Vá lá… Já partilhei tanto contigo… Conta-me!
«Mal te conheço», pensou ele, «E já sei tanto sobre ti».
- Ok… Eu conto. Eu estava totalmente apaixonado por uma rapariga. Começámos a namorar. Acho que chegámos a andar um ano. Um dia ela disse-me, assim do nada, que já não sabia se queria estar comigo, que eu não era o homem com quem ela queria estar daí a dez anos, que era muito inseguro…
A mentira foi como uma libertação. Todas as palavras que sempre tinha querido dizer, disse-as, juntamente com as que nunca quis ouvir.
- E duas semanas depois, vi-a aos beijos com um amigo meu, numa festa.... Agora diz-me lá se vale a pena sofrer por mulheres? – rematou, com uma tentativa do mesmo sorriso malicioso que lhe tinha visto no rosto.
- Que horror!! Desculpa lá, mas essa gaja também não te merecia!
- Pois, mas eu gostava dela…
Continuaram a falar de desilusões amorosas, e a esplanada onde estavam passou de cheia para semi-cheia, e depois vazia. Só eles numa mesa no meio da esplanada. O sol estava quase a pôr-se e a rapariga, com os braços à volta do corpo, tinha já pele de galinha. Ele levou-a a casa e não teve coragem, pensando que não tinha desejo, de a beijar na despedida.
- Então até à próxima! Xau… - disse ela, acenando uma última vez da porta do prédio.
Jaime pôs o rádio na sua estação favorita e começou a conduzir até casa. No caminho ocorreu-lhe que a sua maior desilusão era ele próprio.
22 de Janeiro de 2005,
Stela
- Conta-me a maior desilusão da tua vida.
Os olhos dela pediam-lhe. Mas a mão brincava com o anel de prata que trazia, e Jaime não teve vontade lhe contar a maior desilusão da vida dele.
- Não sei… Todos temos desilusões. As minhas são iguais às de toda a gente, nem maiores nem menores…
- Foi uma rapariga? – disse ela com um sorriso coquete nos lábios. Jaime detestou aquele sorriso, deu-lhe vontade de lhe esfregar lama na cara. No entanto, ficou ali, a observá-la enquanto ela contava a sua maior desilusão, algo sobre um rapaz de quem gostara e que a enganara. «Banal…», pensou.
- Coitada. Deves ter sofrido muito…- disse em voz alta.
- Fogo, se sofri. Até chorei, vê lá. Mas agora já não choro por ninguém, acho que os homens não são merecedores disso!
- Claro, percebo… Criaste couraça – ouviu-se a si próprio dizer.
Ela continuou, absorta na sua dissertação sobre os homens, enquanto ele a olhava entre o fascínio e a repulsa. Como era estúpida, as pulseiras chocalhando com cada exclamação que fazia, e puxando irritantemente o cabelo para trás da orelha, depois de passar a mão por todo o cabelo, deixando antever caracóis castanhos repletos de suavidade. Sorria, a ponta da língua a espreitar por entre os lábios, se achava algo engraçado, mas o olhar era como o de uma gata molhada a tentar manter a dignidade. Brilhante, arrogante, mas frágil, a estalar hipocrisia.
- Vá lá… Já partilhei tanto contigo… Conta-me!
«Mal te conheço», pensou ele, «E já sei tanto sobre ti».
- Ok… Eu conto. Eu estava totalmente apaixonado por uma rapariga. Começámos a namorar. Acho que chegámos a andar um ano. Um dia ela disse-me, assim do nada, que já não sabia se queria estar comigo, que eu não era o homem com quem ela queria estar daí a dez anos, que era muito inseguro…
A mentira foi como uma libertação. Todas as palavras que sempre tinha querido dizer, disse-as, juntamente com as que nunca quis ouvir.
- E duas semanas depois, vi-a aos beijos com um amigo meu, numa festa.... Agora diz-me lá se vale a pena sofrer por mulheres? – rematou, com uma tentativa do mesmo sorriso malicioso que lhe tinha visto no rosto.
- Que horror!! Desculpa lá, mas essa gaja também não te merecia!
- Pois, mas eu gostava dela…
Continuaram a falar de desilusões amorosas, e a esplanada onde estavam passou de cheia para semi-cheia, e depois vazia. Só eles numa mesa no meio da esplanada. O sol estava quase a pôr-se e a rapariga, com os braços à volta do corpo, tinha já pele de galinha. Ele levou-a a casa e não teve coragem, pensando que não tinha desejo, de a beijar na despedida.
- Então até à próxima! Xau… - disse ela, acenando uma última vez da porta do prédio.
Jaime pôs o rádio na sua estação favorita e começou a conduzir até casa. No caminho ocorreu-lhe que a sua maior desilusão era ele próprio.
22 de Janeiro de 2005,
Stela
3 Comments:
Somos tão deliciosamente estúpidos e inseguros, que nos esquecemos que o jogador que mais perde num bluff emocional é quase sempre o autor. Gostei muito do teu ritmo e estrutura. Fiquei admirado com a complexidade crescente das tuas personagens. Espero que sejas uma crescente e pertinante provocação!
By Der Überlebende, at 12:13 AM
ai, ai, ai... devia estar a estudar mas fiquei com uma vontade de escrever o meu texto de 500 palavras! se tirar má nota no exame a culpa é vossa :) :))))
abraço
inté
By Eduarda Sousa, at 5:43 PM
vc tem que ter ofrças para vençeree obstáculos pois eu tbm passei por isso e ainda sofo muitocom isso se quizer falar comigo o meu msn é gabriel_carvalho_almeida@msn.com um grande abração.....
By Anonymous, at 4:21 AM
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