era capaz de jurar que já te tinha visto; 500 palavras para 1 blog
O meu amigo Der Uberlende "ficou contaminado pelo meu desejo de escrever" e mais uma vez me trouxe uma lufada de ar fresco com o texto que segue. Quando o acabei de ler peguei automaticamente na caneta e comecei a escrever. Considero-o o meu mestre da escrita criativa. Aqui vai,
"...era capaz de jurar que já te tinha visto!
Estranha relação esta, entre os meus dedos e os teus sonhos, entre a minha dor frígida e a melopeia mórbida ritmada pelo teu coração. E como sabes tu tanto sobre mim? Como descreves vívidas as memórias dos dias cremosos que passamos entre braços alheios? Poderei eu ainda ser um dos candidatos, desses que esperam pela morte no aconchego da tua miséria? Desfaz-me em pó, deita-me no teu chá de ervas colhidas das cinzas dos montes antes verdes, agora secos como as lágrimas que já não vertes!
Toda a gente te deseja agora, mas a mim resta-me banhar-me com os pingos de saliva que escorrem da boca dos teus adorados. E eu, que prometi um dia oferecer-te o meu espírito, para que dele fizesses pano e vestido para saíres em procissão, devota ao monstro inominável que te criou, a ti e àquelas pessoas como tu: belas e arrogantes, belas e inatingíveis, belas e omnipresentes nos sonhos dos mortais... E eu sou apenas mortal, enquanto tu, meu amor, vives para além desta triste amálgama de unhas, pele, entranhas e ilusões que é o meu corpo, vives para além do viscoso sangue que jurou asfixiar-me no mesmo dia em que jurei amar-te!
E agora, que posso eu escrever sobre ti? Agora não há tinta que seja tão negra quanto a minha agonia, papel tão alvo como a neve gelada que me atasca o caminho, e desejo... que fiz eu ao desejo, eu que desejava tanto, que te desejava tanto, que tanto desejava não parar de desejar, .. deixei-o perecer, qual sereia encalhada na mais conspurcada doca, cheia de bêbedos e putas a dançar em cima das tábuas rangentes que escondem o corpo putrefacto da menina-peixe, golfinho encalhado em terra seca. E eu não sei o que escrever sobre ti, pois és erva daninha que alastra nos meandros do meu cansado cérebro, és mil milhões de minúsculos insectos que empestam o ar que respiro, és o veneno que eu quero injectar, és a terra molhada que insiste em me denunciar, marcando os meus passos onde quer que vá, avisando os corvos que não tarda mais uma carcaça irá tombar, és o meu mais obscuro medo e violento anseio, és a minha menina perdida na floresta, e eu não soube ser lobo para te devorar!...
Agora, estou no mesmo sítio onde me deixaste, feito um espantalho a esbracejar e a afugentar os malditos pássaros que de mim zombeiam, pois eu daqui não saio! E os meus pensamentos afundam-se como se afundou o teu corpo nesta campa que agora visito. E é no granito do anjo que mandei que te esculpissem que ficou guardado para a minha alma, pois nunca mais irei precisar dela, quero tornar-me um anémico e deambulante fantasma, aguardando pelo anúncio da última trombeta, à espera do momento em que tudo finda, à espera de voltar a ter-te nos meus braços...
Malditas todas as horas que me dizem que não te voltarei a ver!!!
Estranha relação esta, entre os meus dedos e os teus sonhos, entre a minha dor frígida e a melopeia mórbida ritmada pelo teu coração. E como sabes tu tanto sobre mim? Como descreves vívidas as memórias dos dias cremosos que passamos entre braços alheios? Poderei eu ainda ser um dos candidatos, desses que esperam pela morte no aconchego da tua miséria? Desfaz-me em pó, deita-me no teu chá de ervas colhidas das cinzas dos montes antes verdes, agora secos como as lágrimas que já não vertes!
Toda a gente te deseja agora, mas a mim resta-me banhar-me com os pingos de saliva que escorrem da boca dos teus adorados. E eu, que prometi um dia oferecer-te o meu espírito, para que dele fizesses pano e vestido para saíres em procissão, devota ao monstro inominável que te criou, a ti e àquelas pessoas como tu: belas e arrogantes, belas e inatingíveis, belas e omnipresentes nos sonhos dos mortais... E eu sou apenas mortal, enquanto tu, meu amor, vives para além desta triste amálgama de unhas, pele, entranhas e ilusões que é o meu corpo, vives para além do viscoso sangue que jurou asfixiar-me no mesmo dia em que jurei amar-te!
E agora, que posso eu escrever sobre ti? Agora não há tinta que seja tão negra quanto a minha agonia, papel tão alvo como a neve gelada que me atasca o caminho, e desejo... que fiz eu ao desejo, eu que desejava tanto, que te desejava tanto, que tanto desejava não parar de desejar, .. deixei-o perecer, qual sereia encalhada na mais conspurcada doca, cheia de bêbedos e putas a dançar em cima das tábuas rangentes que escondem o corpo putrefacto da menina-peixe, golfinho encalhado em terra seca. E eu não sei o que escrever sobre ti, pois és erva daninha que alastra nos meandros do meu cansado cérebro, és mil milhões de minúsculos insectos que empestam o ar que respiro, és o veneno que eu quero injectar, és a terra molhada que insiste em me denunciar, marcando os meus passos onde quer que vá, avisando os corvos que não tarda mais uma carcaça irá tombar, és o meu mais obscuro medo e violento anseio, és a minha menina perdida na floresta, e eu não soube ser lobo para te devorar!...
Agora, estou no mesmo sítio onde me deixaste, feito um espantalho a esbracejar e a afugentar os malditos pássaros que de mim zombeiam, pois eu daqui não saio! E os meus pensamentos afundam-se como se afundou o teu corpo nesta campa que agora visito. E é no granito do anjo que mandei que te esculpissem que ficou guardado para a minha alma, pois nunca mais irei precisar dela, quero tornar-me um anémico e deambulante fantasma, aguardando pelo anúncio da última trombeta, à espera do momento em que tudo finda, à espera de voltar a ter-te nos meus braços...
Malditas todas as horas que me dizem que não te voltarei a ver!!!
19 de Janeiro de 2005,
Der Uberlende
Obrigada Der Uberlende.
2 Comments:
Cruel e impressionante, como disse ao autor. Será que ainda há quem ame ou odeie assim desta forma tão violenta, na era do desencanto?
By Anonymous, at 10:55 PM
Eu creio que não!!!! é de uma forma tão brutal, pura e genuína que me causa calafrios pela espinha abaixo! serei alguma vez capaz de amar assim?
By Eduarda Sousa, at 6:31 PM
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