Luz e Sombra

Sunday, January 23, 2005

Pedro; desafio 500 palavras

Mais cedo do que previa acabei por escrever o meu texto de 500 palavras.

O Pedro tinha 14 anos quando tudo aconteceu. Começo por vos falar do ambiente em casa. Os pais tinham cursos superiores e pode-se dizer que viviam bem. Tinha mais dois irmãos, de 5 e 8 anos. Todos os anos a mobília dos quartos e da sala eram mudados e as paredes novamente pintadas. Ao entrar em casa parecia que não vivia lá ninguém! Tudo tão uniformemente disposto, jamais se via um objecto fora do lugar. Os pormenores chegavam a este ponto: os miúdos não podiam andar descalçados porque ao subir para os sofás iam roçar com os pés e sujar! Os pais iam sempre buscá-los ao colégio de carro e por isso o Pedro jamais andou a pé com os colegas. Vejam lá que aos 14 anos nunca tinha andado de autocarro! Desde cedo que cada um teve o seu computador porque os pais podiam dar-lhes tudo o que quisessem. Nunca pensaram que isso poderia contribuir ainda mais para a solidão de cada um.Os ideais de perfeição, de sucesso eram os que pervaleciam. O Pedro encaixava-se perfeitamente naquele esteriótipo de rapaz magricelas e borbulhento. Nos jogos de futebol era sempre o último a ser escolhido e enviado imediatamente para a baliza. Por mais que tentasse não se conseguia misturar entre os seus pares. Nesse dia o Pedro chegou a casa sentindo-se um monstro. Pegou no seu primeiro cigarro e colocou-o na boca, olhou para o espelho. De repente teve vontade de rasgar a face e escolher uma “normal”. Como se sentia idiota e parvo. Olhou para o telemóvel: Zero mensagens, no mail: Zero. Ninguém queria saber dele, ninguém se lembrava sequer da sua existência. Atirou-se para cima da cama, e olhou para o “Admirável Mundo Novo” de Huxley que andava a ler. Lembrou-se da frase que tinha lido na véspera “as pessoas diferentes estão condenadas à solidão”. Sim, ele era diferente, anormal. Uma dor insuportável começou a crescer dentro do seu peito e era tão agonizante que quase o sufocava. A única coisa de positivo que tinha na sua vida eram as notas escolares. Mas de que serviam elas quando se está sozinho no mundo? Como gostava de ter um amigo, um , não pedia mais... Percorreu a lista telefónica do telemóvel. Nenhum nome para quem pudesse ligar. E a dor ia crescendo.... teve que se levantar e andar de um lado para outro, parecia que ia rebentar, o corpo começou a tremer... “dói tanto, eu já não suporto mais viver, não consigo...”. Rompeu num pranto e enfiou-se debaixo da cama enrolado num cobertor. Sentiu frio, muito frio... e silêncio. Não estava ninguém em casa. O pai voltou para o escritório depois de o deixar em casa. Tentou falar-lhe mas o pai durante todo o caminho veio a falar ao telemóvel com clientes. Depois foi tudo muito rápido, em menos de um minuto foi a correr buscar todos os antidepressivos e calmantes da mãe e tomou-os, não sem antes deixar um bilhete:“Pais amo-vos do fundo do coração. Desculpem. Pedro.”

10 Comments:

  • Anathema - A Fine Day To Exit (A Fine Day to Exit, 2001)

    Long way from home
    Nowhere to go
    What made the river so cold?

    The sweat of thoughts
    trickle down my brow
    Soaking and stinging my eye

    You've got to face it head on
    So you can turn this thing around
    'cause this ain't right

    Tell tale sighs and cries
    Of dreams unfulfilled
    And time is running, running dry

    Panic stricken bloodshot hearts
    Try to restart
    But no longer build the well to survive sweet oblivion

    You've got to face it head on
    So you can turn this thing around
    'cause this ain't right

    I've got these feelings and I don't know why
    I see all my fears in the darkness of light
    What made the river so cold?

    Never anyone to rearrange and fall to
    Time inside the empty
    Call to the blameless, I am faithless
    Placid dying eyes

    You've got to face it head on
    So you can turn this thing around
    'cause this ain't right

    You have to go eye to eye
    Raise your face to the sky
    'cause this ain't right

    I got to believe when I say
    Only this is the way


    Parabéns booklover, o teu texto explode completamente com o conceito de happy ending e leva-nos directamente para a dimensão real da dor, de gente que tu e eu podiamos tão bem conhecer... ou até conhecemos, bem demais!...

    By Blogger Der Überlebende, at 12:07 AM  

  • minha amiga e dizias tu que era dificil...
    prendi-me à tua história,no fim arripiei-me e senti um aperto...conseguiste fazer-me embrenhar na vida do Pedro!
    parabéns!!!

    By Blogger Ana João, at 12:41 PM  

  • sim, esta história foi inspirada em muitas que conheço de perto! infelizmente.

    não está um texto assim tão bom, sou capaz de fazer melhor, acho eu :)

    By Blogger Eduarda Sousa, at 3:06 PM  

  • Curioso, também me chamam os deveres académicos e no entanto, aqui estou a ler o teu texto! Ora bolas! maldita seja a literatura... Acho que descreveste muito bem o beco sem saída em que muitos adolescentes se sentem, sem se aperceberem de que a vida vai mudar, é só esperar pelo virar da esquina. Beijinhos, Stela

    By Anonymous Anonymous, at 12:21 AM  

  • Olá booklover. Apreciei muito a força dramática do teu texto. O ambiente frio e opressor onde se moveram as personagens, tão frágeis e intensamente humanas. Não deves nada à crueza das palavras, ela está lá, sobranceira e dilacerante na dor que nos descreveste em 500 palavras. Parabéns e obrigado pela tua recepção neste forum tão agradável. Uma vénia do
    Der Igel

    By Anonymous Anonymous, at 2:06 AM  

  • Der Igel porque não escreveres também para o blog assim como a Stela? quando vos apetecer, nada de imposições. Faço-vos o convite com muito prazer. Enviem-me o vosso mail!
    um abraço

    By Blogger Eduarda Sousa, at 1:58 PM  

  • ALGUÉM AVISA O ROTEIRISTA QUE TEM VÁRIOS ERROS NO PORTUGUÊS AI

    By Blogger Unknown, at 5:41 PM  

  • Disse à Einstein

    By Blogger Unknown, at 3:18 PM  

  • Mãe

    By Blogger Unknown, at 11:07 PM  

  • nao gostei nem um pouco sabe o porque ? por ele é falso e vcs tambem

    By Anonymous Anonymous, at 12:32 PM  

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