Luz e Sombra

Sunday, February 06, 2005

Pedes; 500 palavras para um blog

Pedes-me que te seja fiel, mas não consigo. Não é que eu não goste de ti, não é que eu não te ame. Mas também amo as outras mulheres. Todas são dignas de amor, cada uma bela à sua maneira. Se tivesse que escolher, não saberia como. Vejo as mulheres como um bouquet de rosas. Umas delicadas, ainda fechadas em botão para o mundo, apenas deixando adivinhar a forma completa da beleza. Outras esplendorosamente abertas, opulentas, ostentado toda a sua fragrância quente. Tantas rosas, tantas mulheres. Tu és uma dessas rosas, por isso vês como te quero? Não dramatizes, estou a dizer que te quero. Até gostava de fazer de ti a minha única flor. Pôr-te numa redoma, afastar-te de todo o mal que te possa magoar. Não deixar que nada estrague a minha bela rosa, de espinhos tão atentos. Mas tu não me deixas, sempre a pedir essa exclusividade. Não vês que estragas tudo? Porque não aceitas de uma vez o que te posso dar? Assim, obrigas-me a entrar e sair da tua vida constantemente, como um vento de longe. Se tenho saudades, se tenho vontade, se preciso de saber que há quem arraste os dias sem significado na minha ausência e só acorde para a vida quando estou lá, quem se queira dar toda e só a mim. Não posso deixar que te libertes porque te amo, nem que te prendas porque não te amo o suficiente. Obrigas-me a ser um fantasma que te assola se estás distraída com a morte e não atenta à vida.
No fundo, a culpa é toda tua. Talvez se fosses mais confiante, eu te pudesse escolher para seres a minha única rosa. Não sei, não se escolhem os sentimentos, a verdade é que também podia não te escolher à mesma. Se calhar, aquilo de que gosto em ti é mesmo essa insegurança, esse tactear com que te aproximas da vida. Ficas tão mais indefesa, tão mais pequenina, quase cabes na palma da minha mão. Assustas-me quando olhas para outros homens, e te ris das piadas de outros. Não faças isso. Parece-me que vais fugir, que vou deixar de te ter à minha espera, que vou deixar de ser o homem da tua vida. Fazes-me sentir medonho e só.
Por isso fica, minha rosa. Fica aqui enquanto eu viajo pelo mundo e conheço outras rosas, fica aqui enquanto eu aqueço outros corpos. Não te sintas mal… Não tenhas vergonha dos teus sentimentos, nem digas que é miserável a tua obsessão, que é impossível o nosso amor. Quem sabe… Todos os teus sentimentos valem a pena, mesmo que eu nunca esteja ao teu lado para receber os teus abraços, nem ouvir as tuas palavras, as tuas alegrias e tristezas. Não caem em saco roto, minha linda. Ficam registados no meu coração, para deles fazer uma manta de carinhos com que me cubro em noites frias. Entretanto, mesmo longe, estarei sempre contigo. Não vês onde? Bem dentro de ti, neste buraco que escavou a solidão.

3 Comments:

  • Intimidade. O mais cruel conceito criado pela humanidade, pode ser tão doce e envolvente como acre e repugnate. Atrai e afasta, num jogo dual de magnetos desirmanados. Apetecível e assustadora, como se fosse uma criança timida perante uma montanha russa contorcida e imprevisível. Entre o assombro e o pânico, entre o fascínio e a impaciência, entre o amor.. para além do amor! Não há amor sem intimidade... nem intimidade sem amor! O Amor vai-nos despedaçar, de novo (Love will Tear Us Apart, Joy Division)...

    Sobreviveremos à (falta de ) intimidade?

    By Blogger Der Überlebende, at 10:36 PM  

  • Para mim eu teria de ser a única rosa desse homem! porque esta necessidade dos homens quererem sempre mais mulheres? porquê? porque não se mantém fieis? palavra que não percebo!

    By Blogger Eduarda Sousa, at 10:41 AM  

  • Como escreves bem, Stela! Tens força de romancista a encarnar a pele dos personagens. Continua, vamos dar-lhe "forte e feio". Parabéns! Der Igel

    By Anonymous Anonymous, at 9:56 PM  

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