Luz e Sombra

Friday, June 10, 2005

Interludium: Quem morre? por Pablo Neruda (enviado por Dasha)

Ora viva,

Enquanto os exâmes, relatórios, projectos e trabalhos apertam e o calor faz desesperar aqueles que tem que ficar em casa a trabalhar em vez de ir para a praia ou para os Santos Populares (logo eu, nascido e criado num bairro popular de Lisboa, tenho tanto para fazer agora...), aqui vai uma sugestão de leitura da Dasha

boas transpirações e melhores inspirações


D.U.



Quem morre?

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

3 Comments:

  • Gosto muito deste poema, não há dúvida que é lindíssimo e nos desperta. Já o conhecia graças ao post que a Perséfone fez no Poetismo(http://poetismo.blogspot.com/2005/03/morre-lentamente.html). Boa escolha Dasha.
    Beijinho*

    By Blogger SweetSerenity, at 1:37 PM  

  • ohh gosto tanto desse poema.. :)
    bem.. eu gosto bastante de pablo neruda e pontos.. enfim

    beijinho*

    By Blogger Perséfone, at 4:23 PM  

  • Não é de Neruda.
    Esse "poema" foi construído a partir da crônica A Morte Devagar, de Martha Medeiros, publicada no livro NON-STOP: Crônicas do Cotidiano, L&PM, Porto Alegre, 2001

    Ajudem-nos a desfazer este terrível equívoco.

    http://pt.wikiquote.org/wiki/Pablo_Neruda

    By Blogger Unknown, at 2:39 AM  

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