O Caos
Levantei-me. Dia de exame. Horas angustiantes de saber que nada sei. Mas fui e fiz a prova. Como correu? Isso não interessa nada. Ao regressar vinha no autocarro quando uma mulherzinha de buço viçoso grita aflitivamente: "Oh Sô Xofer impertei a mão na porta. Abra! Abra! Abra!" Quando dei por mim já estávamos todos a gritar "Abra, Abra". Vou antes falar do segundo autocarro que apanhei. Fiquei sem pilhas no discman a meio do caminho. Azar o meu. Vou antes falar do Isacc. Tem um tique estranho: ao falar, entre as palavras faz um movimento notoriamente ascendente e descendente com as sobrancelhas. Torna-se irritante. Azar o dele. Vou antes falar da minha vizinha que chama "pardelho" ao piriquito e que me veio dizer que "é um pardelho muito biqueiro, só come as sementes que lhe agradam". Por falar em pardelhos lembrei-me da minha avô e do que costuma dizer da nossa gata: "Raça da gata que é cavaca". E a seguir... Esqueci-me de tudo o que tinha para contar.
ps - à memória de Daniil Harms
ps - à memória de Daniil Harms
4 Comments:
Apesar de "não teres dito nada" gostei desse texto, a sério que sim; fala-se de tudo a dizer nada...bjs
By Anonymous, at 2:28 PM
confuso. perdi o fio condutor... Ou daí talvez não... flashes de um dia, assoiações lógicas só para quem as vê e consegue entender.
:)
By Anonymous, at 4:15 PM
A Arte deixou o seu fio condutor da realidade há mais de um século (mais ainda? é discutível. seguindo...). E é na metáfora e na fantasia que hoje vai beber (demasiado? ainda? em confronto de ideias poderemos confluir em algum ponto.).
Desenhaste-me um autocarro: olá. Com pessoas dentro.
By Hugo Torres, at 2:58 AM
Adorei os teus flashes, as tuas polaroids.
A lógica condutora não interessa nada. Raramente os nossos dias têm um fio que ate os elos uns aos outros e os componha, certinhos e assépticos.
Estás cada vez melhor.
By Bicho d'Ouvido, at 1:46 PM
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