Um longo dia de Frio
Acordar. Abrir a janela. Sentir o frio na cara. Tiritar. Bocejar. Cambalear. Espreguiçar. Um novo dia começa.
Embalar gaiola do canário com papel aderente para proteger do frio. Não esquecer de fazer buracos com palito para respirar.
Cá fora. Vento glacial corta a respiração. Sentir o bafo das nossas palavras quando abrimos a boca. Espirrar. Escabrosa labuta: tirar luvas, colocá-las nos bolsos, pegar no saco, abri-lo, revolver com uma mão até encontrar plástico. Desespero: o ranho começa a vazar. Êxtase: os lenços aparecem. Limpar e guardar no bolso para futuros assaltos mucosos.
Café. Retirar casaco, luvas, cachecol e sentir o corpo a estrebuchar de arrepios. Pedir bebida quente e friccionar as frieiras. As dos pés também reclamam mas não há solução. Suportar a comichão.
De Repente: sentir o nariz regelado. Desejar um carapuço para o aquecer. Intelectos ignóbeis que só inventam coisas que não interessam a ninguém. A penca não terá direito?
Espirros na mesa ao lado. Importante: proteger a bebida de possíveis partículas microscópicas salivares com fragmentos de ADN de outro ser.
Não aguentar frio nas mãos e calçar luvas. Tentar pegar em moedas para pagar bebida. Impossível. Carteira desliza. Cascalho espalha-se pelo chão. Vergonha. Temperatura a subir em flecha. Rosto escarlate. Penca a latejar. Abaixar para apanhar.
Regressar a casa. Tirar botas e calçar pantufas.
Noite. Botija de água quente na cama. Aquecer pés em primeiro lugar. Tentativa de ler: frustrada. Mãos solidificam ao ar livre: dedos enrijecidos. Resultado final: mãos dormentes. Solução: pousar livro. Resolução: dormir!
Embalar gaiola do canário com papel aderente para proteger do frio. Não esquecer de fazer buracos com palito para respirar.
Cá fora. Vento glacial corta a respiração. Sentir o bafo das nossas palavras quando abrimos a boca. Espirrar. Escabrosa labuta: tirar luvas, colocá-las nos bolsos, pegar no saco, abri-lo, revolver com uma mão até encontrar plástico. Desespero: o ranho começa a vazar. Êxtase: os lenços aparecem. Limpar e guardar no bolso para futuros assaltos mucosos.
Café. Retirar casaco, luvas, cachecol e sentir o corpo a estrebuchar de arrepios. Pedir bebida quente e friccionar as frieiras. As dos pés também reclamam mas não há solução. Suportar a comichão.
De Repente: sentir o nariz regelado. Desejar um carapuço para o aquecer. Intelectos ignóbeis que só inventam coisas que não interessam a ninguém. A penca não terá direito?
Espirros na mesa ao lado. Importante: proteger a bebida de possíveis partículas microscópicas salivares com fragmentos de ADN de outro ser.
Não aguentar frio nas mãos e calçar luvas. Tentar pegar em moedas para pagar bebida. Impossível. Carteira desliza. Cascalho espalha-se pelo chão. Vergonha. Temperatura a subir em flecha. Rosto escarlate. Penca a latejar. Abaixar para apanhar.
Regressar a casa. Tirar botas e calçar pantufas.
Noite. Botija de água quente na cama. Aquecer pés em primeiro lugar. Tentativa de ler: frustrada. Mãos solidificam ao ar livre: dedos enrijecidos. Resultado final: mãos dormentes. Solução: pousar livro. Resolução: dormir!
7 Comments:
Hilariante:) Bem mas isto é mesmo verdade.... de norte a sul do país... incrível como de facto dormir se torna sempre na melhor solução para um dia insopurtável...não há nada como o conforto do quentinho:)
*Beijinhos*
By Musera, at 10:59 AM
Na minha opinião, é provavelmente o teu melhor texto até hoje.
simplesmente desconcertante, fresco, cheio de bom e mau humor, irreverente. Simples. Sem traumas. Sem medos. Uma obra digna de quem se diz querer ser uma contadora de histórias.
muido bom mesmo, sem rodeios.
5 *****
der uberr
By Der Überlebende, at 12:45 PM
Foi escrito de rajada, ainda hesitei muito em tirar certas partes mas venci os preconceitos e coloquei-o tal como escrevi. Engraçado, as ideias foram surgindo umas a seguir às outras sem me darem muito tempo para pensar.
A música e poesia tem me ajudado bastante.
Quanto a ser contadora de histórias já não me preocupa muito sinceramente. Agora estou numa de desejar ser apenas uma boa jornalista :)
A vossa opinião é muito importante p mim.
beijinho
By Eduarda Sousa, at 10:08 AM
Concordo inteiramente, eh texto muito apelativo. Le-lo foi divertido, mas estas epopeias do dia a dia sao mesmo lixadas... Beijinhos e nunca pares, porque eh mesmo bom ler os teus textos.
By smallworld, at 3:37 PM
e não será um bom jornlaista um incontornável contador de estórias em tempo real? ;)
Sabor especial, meu sorriso escorregou bem pela leitura.
Triângulo lunar,
teu.
By Sílvio Mendes, at 6:51 PM
Gostei MUITO.
Tenho dito. ;)
By Filipa, at 10:23 PM
Deste texto gostei especialmente.
tem ritmo rápido, não é lido de um só folego, mas quase... real, divertido... o quotidiano como melhor o temos: vivido!
cinco estrelas!!
By Anonymous, at 4:18 PM
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