Luz e Sombra

Wednesday, February 15, 2006

Fumei um charro e…

Fui engolido pelo útero materno. Afoguei-me no líquido amniótico. Exausto, compreendi que conseguia flutuar à sua superfície. Carinhosamente, como um afago no pêlo de um cão. Senti-me quentinho e doce no embalo da ternura maternal. Novamente: dois corpos, um só espírito. O cordão umbilical associou-se à minha excrescência. Um só cordel, um só amor: inquebrável. Ouvi, outra vez, uma voz açucarada a sussurrar-me: “meu tesouro, minha alma”. nhac nhac nhac: o filho da p. do cordão enrolou-se no pescoço e pôs-me roxo. boom: fui parido outra vez. Cabrões: pegaram em mim pelas pernas e deram-me uma palmada no rabo. Virei-me e fui-lhes ao focinho: zás. Assim sem mais nem menos! Zás: já está! O meu corpo frio e nu estava coberto de porções carcomidas de sangue. A placenta arrochou e eu arranquei-a furioso como um cão sarnento cheio de comichão. Cambaleei, esqueci-me que já não sabia andar. Oh, teria de reaprender tudo outra vez. Rastejei até dar uma cabeçada na porta. Foi então que abri os olhos enovoados e descobri que estava deitado na posição fetal.

2 Comments:

  • Acho que é um pouco sanguinário mas vindo de ti não me admira nada. o titulo foi muito bem escolhido. Continua assim!!!!

    By Anonymous Anonymous, at 1:50 PM  

  • gostei muito deste teu texto... sujo, sabes? :)

    By Anonymous Anonymous, at 4:24 PM  

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