É Agosto; 500 palavras para um blog by dream
Ora viva,
Eis que surge mais uma aventureira que embarca no Desafio 500 - Dream
Já agora, gostava de deixar uma pequena nota/comentário em relação ao D500:
1. Não é um concurso, nem um jogo, e muito menos uma forma obrigatória para publicar neste blog. Trata-se de isso mesmo, um desafio, de uma maneira de criar um modelo em que todos se sintam livres de entrar.
2. O objectivo central do D500 é homogeneidade na diferença! Como? Ao formatar os textos em (parcelas de) 500 palavras não há o estigma de "eu escrevo mais que tu" ou "eu sei ser sintético e com 14 palavras descrevo o mundo inteiro". A verdade é que por vezes as pessoas ficam algo intimidadas com alguns textos e pensam (MUITO ERRADAMENTE) que não "estarão à altura" e coibem-se de participar. 500 palavras são, grosso modo, uma página A4 de texto, ou seja é um esforço perfeitamente acessível de criação de prosa, ou poesia ou o que quer que se consiga fazer com a palavra escrita, em que não há espaço para grandes verborreias nem para auto-análises demasiado prejorativas ou excessivamente negativistas, que contribuem demasiado para o acentuar de estados depressivos ou bloqueios emocionais (concordas comigo P.?).
3. Liberdade. Tem que haver prazer, dor, extase, conflicto, abertura, engano, o que mais for adequado ao momentum da escrita. Agora NUNCA pode haver é falta de liberdade! O D500 JAMAIS representará castração de ideias ou palavras. Ou se alinha... ou não! Não é um escalão de beleza, um padrão de criatividade nem uma bitola de pseudointelectualismo (que é algo que aprendi a desprezar).
4. Na minha modesta opinião, o D500 está a resultar! Quantos de vós aceitariam escrever para este blog no espírito do "Anda daí e contribui para o meu blog, escreve umas coisas giras que eu publico e depois comentamos todos". Possivelmente continuariam no vosso espaço pessoal de blogosfera e nem se interessariam em participar no blog de perfeitos estranhos, quanto muito participariam com comentários como é usual. No entanto, ao ser criado um estímulo perfeitamente entendível por todos gerou-se uma atmosfera de participação que ainda não tive a oportunidade de descobrir em muitos blogs, isto sem qualquer pingo de pretenciosismo.
5. Estariam aqui no Luz e Sombra a ler esta mensagem se não se sentissem desafiados pelo D500? :)
obrigado pelo vosso contributo. Dos que escrevem, dos que comentam e dos que leem atentamente.
atentamente,
Der Uberlende
Agora ao que realmente IMPORTA!
É Agosto.
Mais uma vez Manel regressa à terra que o viu nascer. Como estes dias são felizes para Manel. Aqui Manel reencontra a família que deixou na aldeia para ir em busca de uma vida melhor em Lisboa. Aqui Manel reencontra os seus pais, nunca sabendo se no próximo ano terá a mesma alegria, reencontra as irmãs, que o ajudaram a criar, reencontra os sobrinhos, por quem tem um amor imensurável. Mas há alguém que Manel não reecontra, alguém de quem Manel se separou abruptamente e não conseguiu voltar a encontrar.
Manel não reencontra os seus amigos de meninice. Passaram demasiados anos desde que cada um seguiu o seu destino, e Manel não sabe qual foi o destino dos seus amigos…
É mais um fresco fim de tarde beirão, Manel passeia com os filhos pelas ruelas da sua aldeia. Como este passeio lhe traz à memória todas as travessuras e aventuras de rapaz. Como lhe faz lembrar dos seus amigos. Então Manel começa a pensar alto, enquanto os seus filhos o ouvem embevecidos:
- Neste caminho havia uma grande macieira. Sempre que saíamos da escola vínhamos por aqui para apanhar maçãs. Ficava um a guardar o caminho enquanto os outros as apanhavam. Sempre era mais qualquer coisa que comíamos, porque em casa o pouco que havia era sempre pouco a dividir por muitos…
- Aqui era a casa de uns emigrantes, que tinham uma filha muito bonita. Uma vez juntamo-nos todos cá em baixo e fomos cantar-lhe à janela à noite. Ela ficou deliciada, mas cada vez que me lembro do pai dela a correr atrás de nós pelo largo… - disse esboçando um sorriso.
- Ali era o aviário do pai do Arlindo. - Será que ainda lá haverá alguma coisa? - De vez em quando íamos lá roubar galinhas para fazer churrascadas à noite. Sentíamo-nos uns heróis…
- Naquele beco vivia…
E assim continuou a recordar ao longo do seu passeio.
Mas a juventude de Manel e a dos seus amigos acabou com a chamada para a tropa. Naquele tempo ninguém sabia ao que ia. Era quase inevitável ir para o Ultramar, ir para a guerra… Uma guerra que nenhum deles percebia… Uma guerra que estava lá tão longe à espera deles…
Manel voltou de Angola em 1975. Mas não voltou para a sua aldeia. Ficou em Lisboa a tentar a sua vida. Durante muitos anos não teve dinheiro para regressar à sua aldeia. Quando lá voltou já não encontrou os seus amigos…
De todas as vezes que voltava à sua aldeia Manel perguntava-se: Que lhes teria acontecido? Teriam também eles ido para o Ultramar? Teriam eles conseguido dar o salto? Estariam eles noutra cidade qualquer? Estariam casados? Teriam filhos? Mas naquele fim de tarde de Agosto surgiu na cabeça de Manel uma pergunta que o gelou: Teriam eles sobrevivido à guerra?
De muitos Manel nunca saberá, mas terá sempre as suas recordações de meninice para se reencontrar com os seus amigos nas ruas da sua aldeia…
19 de Abril de 2005,
Dream
Eis que surge mais uma aventureira que embarca no Desafio 500 - Dream
Já agora, gostava de deixar uma pequena nota/comentário em relação ao D500:
1. Não é um concurso, nem um jogo, e muito menos uma forma obrigatória para publicar neste blog. Trata-se de isso mesmo, um desafio, de uma maneira de criar um modelo em que todos se sintam livres de entrar.
2. O objectivo central do D500 é homogeneidade na diferença! Como? Ao formatar os textos em (parcelas de) 500 palavras não há o estigma de "eu escrevo mais que tu" ou "eu sei ser sintético e com 14 palavras descrevo o mundo inteiro". A verdade é que por vezes as pessoas ficam algo intimidadas com alguns textos e pensam (MUITO ERRADAMENTE) que não "estarão à altura" e coibem-se de participar. 500 palavras são, grosso modo, uma página A4 de texto, ou seja é um esforço perfeitamente acessível de criação de prosa, ou poesia ou o que quer que se consiga fazer com a palavra escrita, em que não há espaço para grandes verborreias nem para auto-análises demasiado prejorativas ou excessivamente negativistas, que contribuem demasiado para o acentuar de estados depressivos ou bloqueios emocionais (concordas comigo P.?).
3. Liberdade. Tem que haver prazer, dor, extase, conflicto, abertura, engano, o que mais for adequado ao momentum da escrita. Agora NUNCA pode haver é falta de liberdade! O D500 JAMAIS representará castração de ideias ou palavras. Ou se alinha... ou não! Não é um escalão de beleza, um padrão de criatividade nem uma bitola de pseudointelectualismo (que é algo que aprendi a desprezar).
4. Na minha modesta opinião, o D500 está a resultar! Quantos de vós aceitariam escrever para este blog no espírito do "Anda daí e contribui para o meu blog, escreve umas coisas giras que eu publico e depois comentamos todos". Possivelmente continuariam no vosso espaço pessoal de blogosfera e nem se interessariam em participar no blog de perfeitos estranhos, quanto muito participariam com comentários como é usual. No entanto, ao ser criado um estímulo perfeitamente entendível por todos gerou-se uma atmosfera de participação que ainda não tive a oportunidade de descobrir em muitos blogs, isto sem qualquer pingo de pretenciosismo.
5. Estariam aqui no Luz e Sombra a ler esta mensagem se não se sentissem desafiados pelo D500? :)
obrigado pelo vosso contributo. Dos que escrevem, dos que comentam e dos que leem atentamente.
atentamente,
Der Uberlende
Agora ao que realmente IMPORTA!
É Agosto.
Mais uma vez Manel regressa à terra que o viu nascer. Como estes dias são felizes para Manel. Aqui Manel reencontra a família que deixou na aldeia para ir em busca de uma vida melhor em Lisboa. Aqui Manel reencontra os seus pais, nunca sabendo se no próximo ano terá a mesma alegria, reencontra as irmãs, que o ajudaram a criar, reencontra os sobrinhos, por quem tem um amor imensurável. Mas há alguém que Manel não reecontra, alguém de quem Manel se separou abruptamente e não conseguiu voltar a encontrar.
Manel não reencontra os seus amigos de meninice. Passaram demasiados anos desde que cada um seguiu o seu destino, e Manel não sabe qual foi o destino dos seus amigos…
É mais um fresco fim de tarde beirão, Manel passeia com os filhos pelas ruelas da sua aldeia. Como este passeio lhe traz à memória todas as travessuras e aventuras de rapaz. Como lhe faz lembrar dos seus amigos. Então Manel começa a pensar alto, enquanto os seus filhos o ouvem embevecidos:
- Neste caminho havia uma grande macieira. Sempre que saíamos da escola vínhamos por aqui para apanhar maçãs. Ficava um a guardar o caminho enquanto os outros as apanhavam. Sempre era mais qualquer coisa que comíamos, porque em casa o pouco que havia era sempre pouco a dividir por muitos…
- Aqui era a casa de uns emigrantes, que tinham uma filha muito bonita. Uma vez juntamo-nos todos cá em baixo e fomos cantar-lhe à janela à noite. Ela ficou deliciada, mas cada vez que me lembro do pai dela a correr atrás de nós pelo largo… - disse esboçando um sorriso.
- Ali era o aviário do pai do Arlindo. - Será que ainda lá haverá alguma coisa? - De vez em quando íamos lá roubar galinhas para fazer churrascadas à noite. Sentíamo-nos uns heróis…
- Naquele beco vivia…
E assim continuou a recordar ao longo do seu passeio.
Mas a juventude de Manel e a dos seus amigos acabou com a chamada para a tropa. Naquele tempo ninguém sabia ao que ia. Era quase inevitável ir para o Ultramar, ir para a guerra… Uma guerra que nenhum deles percebia… Uma guerra que estava lá tão longe à espera deles…
Manel voltou de Angola em 1975. Mas não voltou para a sua aldeia. Ficou em Lisboa a tentar a sua vida. Durante muitos anos não teve dinheiro para regressar à sua aldeia. Quando lá voltou já não encontrou os seus amigos…
De todas as vezes que voltava à sua aldeia Manel perguntava-se: Que lhes teria acontecido? Teriam também eles ido para o Ultramar? Teriam eles conseguido dar o salto? Estariam eles noutra cidade qualquer? Estariam casados? Teriam filhos? Mas naquele fim de tarde de Agosto surgiu na cabeça de Manel uma pergunta que o gelou: Teriam eles sobrevivido à guerra?
De muitos Manel nunca saberá, mas terá sempre as suas recordações de meninice para se reencontrar com os seus amigos nas ruas da sua aldeia…
19 de Abril de 2005,
Dream
1 Comments:
fiquei agradavelmente surpresa por ter encontrado tantos textos novos pra ler :D li-os a todos, estou ainda a considerar comenta-los, mas se nao o fizer [por preguiça ou falta de tempo] entrego aqui os meus parabens a todos :)
ja agora, sim concordo com o que disseste ;)
beijinho a todos **** :)
By Perséfone, at 9:40 PM
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