Luz e Sombra

Tuesday, April 19, 2005

É Agosto; 500 palavras para um blog by dream

Ora viva,

Eis que surge mais uma aventureira que embarca no Desafio 500 - Dream

Já agora, gostava de deixar uma pequena nota/comentário em relação ao D500:

1. Não é um concurso, nem um jogo, e muito menos uma forma obrigatória para publicar neste blog. Trata-se de isso mesmo, um desafio, de uma maneira de criar um modelo em que todos se sintam livres de entrar.
2. O objectivo central do D500 é homogeneidade na diferença! Como? Ao formatar os textos em (parcelas de) 500 palavras não há o estigma de "eu escrevo mais que tu" ou "eu sei ser sintético e com 14 palavras descrevo o mundo inteiro". A verdade é que por vezes as pessoas ficam algo intimidadas com alguns textos e pensam (MUITO ERRADAMENTE) que não "estarão à altura" e coibem-se de participar. 500 palavras são, grosso modo, uma página A4 de texto, ou seja é um esforço perfeitamente acessível de criação de prosa, ou poesia ou o que quer que se consiga fazer com a palavra escrita, em que não há espaço para grandes verborreias nem para auto-análises demasiado prejorativas ou excessivamente negativistas, que contribuem demasiado para o acentuar de estados depressivos ou bloqueios emocionais (concordas comigo P.?).
3. Liberdade. Tem que haver prazer, dor, extase, conflicto, abertura, engano, o que mais for adequado ao momentum da escrita. Agora NUNCA pode haver é falta de liberdade! O D500 JAMAIS representará castração de ideias ou palavras. Ou se alinha... ou não! Não é um escalão de beleza, um padrão de criatividade nem uma bitola de pseudointelectualismo (que é algo que aprendi a desprezar).
4. Na minha modesta opinião, o D500 está a resultar! Quantos de vós aceitariam escrever para este blog no espírito do "Anda daí e contribui para o meu blog, escreve umas coisas giras que eu publico e depois comentamos todos". Possivelmente continuariam no vosso espaço pessoal de blogosfera e nem se interessariam em participar no blog de perfeitos estranhos, quanto muito participariam com comentários como é usual. No entanto, ao ser criado um estímulo perfeitamente entendível por todos gerou-se uma atmosfera de participação que ainda não tive a oportunidade de descobrir em muitos blogs, isto sem qualquer pingo de pretenciosismo.
5. Estariam aqui no Luz e Sombra a ler esta mensagem se não se sentissem desafiados pelo D500? :)

obrigado pelo vosso contributo. Dos que escrevem, dos que comentam e dos que leem atentamente.

atentamente,

Der Uberlende


Agora ao que realmente IMPORTA!


É Agosto.

Mais uma vez Manel regressa à terra que o viu nascer. Como estes dias são felizes para Manel. Aqui Manel reencontra a família que deixou na aldeia para ir em busca de uma vida melhor em Lisboa. Aqui Manel reencontra os seus pais, nunca sabendo se no próximo ano terá a mesma alegria, reencontra as irmãs, que o ajudaram a criar, reencontra os sobrinhos, por quem tem um amor imensurável. Mas há alguém que Manel não reecontra, alguém de quem Manel se separou abruptamente e não conseguiu voltar a encontrar.

Manel não reencontra os seus amigos de meninice. Passaram demasiados anos desde que cada um seguiu o seu destino, e Manel não sabe qual foi o destino dos seus amigos…

É mais um fresco fim de tarde beirão, Manel passeia com os filhos pelas ruelas da sua aldeia. Como este passeio lhe traz à memória todas as travessuras e aventuras de rapaz. Como lhe faz lembrar dos seus amigos. Então Manel começa a pensar alto, enquanto os seus filhos o ouvem embevecidos:

- Neste caminho havia uma grande macieira. Sempre que saíamos da escola vínhamos por aqui para apanhar maçãs. Ficava um a guardar o caminho enquanto os outros as apanhavam. Sempre era mais qualquer coisa que comíamos, porque em casa o pouco que havia era sempre pouco a dividir por muitos…

- Aqui era a casa de uns emigrantes, que tinham uma filha muito bonita. Uma vez juntamo-nos todos cá em baixo e fomos cantar-lhe à janela à noite. Ela ficou deliciada, mas cada vez que me lembro do pai dela a correr atrás de nós pelo largo… - disse esboçando um sorriso.

- Ali era o aviário do pai do Arlindo. - Será que ainda lá haverá alguma coisa? - De vez em quando íamos lá roubar galinhas para fazer churrascadas à noite. Sentíamo-nos uns heróis…

- Naquele beco vivia…

E assim continuou a recordar ao longo do seu passeio.

Mas a juventude de Manel e a dos seus amigos acabou com a chamada para a tropa. Naquele tempo ninguém sabia ao que ia. Era quase inevitável ir para o Ultramar, ir para a guerra… Uma guerra que nenhum deles percebia… Uma guerra que estava lá tão longe à espera deles…

Manel voltou de Angola em 1975. Mas não voltou para a sua aldeia. Ficou em Lisboa a tentar a sua vida. Durante muitos anos não teve dinheiro para regressar à sua aldeia. Quando lá voltou já não encontrou os seus amigos…

De todas as vezes que voltava à sua aldeia Manel perguntava-se: Que lhes teria acontecido? Teriam também eles ido para o Ultramar? Teriam eles conseguido dar o salto? Estariam eles noutra cidade qualquer? Estariam casados? Teriam filhos? Mas naquele fim de tarde de Agosto surgiu na cabeça de Manel uma pergunta que o gelou: Teriam eles sobrevivido à guerra?

De muitos Manel nunca saberá, mas terá sempre as suas recordações de meninice para se reencontrar com os seus amigos nas ruas da sua aldeia…


19 de Abril de 2005,

Dream

1 Comments:

  • fiquei agradavelmente surpresa por ter encontrado tantos textos novos pra ler :D li-os a todos, estou ainda a considerar comenta-los, mas se nao o fizer [por preguiça ou falta de tempo] entrego aqui os meus parabens a todos :)

    ja agora, sim concordo com o que disseste ;)

    beijinho a todos **** :)

    By Blogger Perséfone, at 9:40 PM  

Post a Comment

<< Home


 

referer referrer referers referrers http_referer