A Carriça
Há muitos anos atrás, Joaquim tinha uma égua de quem gostava muito, a Carriça. Entre os dois havia uma grande amizade, o velho tratava-a com meiguice e carinho, conversava com ela como se fosse uma pessoa, afagava-a a todos os instantes. Mais do que um animal a Carriça era como se fosse um membro da família, trabalhava nos campos, transportava cargas, pessoas e fazia companhia a Joaquim. Certo dia, estavam os dois a brincar quando a égua imprevistamente lhe acertou com um casco no queixo. Com a boca a sangrar, cheio de dores insuportáveis e a espumar raiva pelo corpo, o velho foi a correr buscar o engaço do estrume. Tresloucado de maldade cravou-o com todas as forças que a idade ainda lhe concedia no dorso da Carriça. Passados alguns dias a égua Morreu.
Joaquim era meu bisavô, nunca cheguei a conhecê-lo em vida, morreu antes de eu nascer. Esta terrível herança caiu-me nas costas à dois dias atrás. Um pensamento estúpido contudo não me deixa de acompanhar: transportarei nos genes algo do bisavô Joaquim? tremo só de pensar nisso!
Tempos difíceis? Ignorância? ou pura Maldade?
6 Comments:
Perdoa-me a ignorância, mas... o que é o engaço?
;-)
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Anonymous, at 5:23 PM
raiva...
maldade acho que não, mas a égua era amiga, ele tlavez se tenah sentido atraiçoado por ela e num ímpeto fez o que muitas vezs pensamos "fizeste-me isto então toma lá..."
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Anonymous, at 6:17 PM
cá se fazem cá se pagam é assim que se costuma dizer, não duvido que naquela altura as coisas nao fossem faceis, e talvez por isso tenha acontecido, o terminar de um dia cansativo e extenuante, talvez um dia de mau humor e má sorte. um acto de raiva enlouquecida irremediavel. enfim, deve ter lamentado quando ja nada havia a fazer [quantas vezes nao revelamos comportamento "semelhante" em pequenos gestos do dia a dia?] todos temos esses genes do tio Joaquim, todos somos seres humanos e por mais que digam que esses reflexos devem ser contidos e sao errados, nao percebo qual a vantagem em nega-los. nao fico tao chocada quanto isso quando se me revelam esse comportamento, é herança do nosso "eu" primitivo, quer queiramos quer nao todos o temos e "abraça-lo" e conhece-lo so nos da consciencia e "controlo" sobre ele.
tenho de comentar o texto do Der Uberlende que esta assim.. de chorar por mais.. sim.. eu quero MAIS! :D lol a narrativa dele é viciante.. sim. gostei da forma como ele transmitiu a sua interpretaçao da biblia e nao so, da sua interpretaçao do mundo. enfim gostei sim e que mais posso dizer?
beijinhos a voces os quatro e aos que contribuem :) ****
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Perséfone, at 7:04 PM
Sim, concordo com a perséfone, isto de genes para a violência temos todos. Neste caso acho que contribui o facto de humanizarmos os animais, dando-lhes sentimentos que são tipicamente nossos: amor, ódio, tristeza, raiva. Atribuimos uma traição horrível a um comportamento que é normal num cavalo (acho...). Daí a vingança tão cruel.
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smallworld, at 11:48 PM
earworm um engaço é tipo uma "sachola" para cavar terra :) hehe
beijinho
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Eduarda Sousa, at 10:57 AM
Bolas! Pobre égua.
Mas momentos de raiva todos têm. A Stela tem razão, acho: a nossa tendência para humanizarmos os animais, atribuindo-lhes sentimentos nossos, dá-nos para interagirmos com eles da pior maneira, também. Não me parece que devas temer genes "maus". Em matéria de comportamento, cedemos sempre mais aos padrões que aprendemos, do que ao ADN.
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Anonymous, at 3:01 PM
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