DP2: Pressão... (Parte II), por SilentChild
Pois bem,
Aqui vai então a segunda contribuição do dia para o nosso desafio, agora o autor é o SilentChild
Ainda bem que prolonguei o prazo!
continuação de boas escritas,
Der uberlende
Pressão... (ParteII)
Fiquei sem saber o que fazer… disparar a arma na ilusão de fugir cobardemente desta vidinha desgraçada em que me tenho mergulhado… ou ir ver o que se passa lá fora. Então pensei: se eu não tenho saída, se não me livro desta pressão, se já nem consigo ajudar-me nem libertar-me de uma lastimosa auto-comiseração, posso ao menos tentar ajudar alguém… se é que me resta alguma dignidade. Larguei imediatamente a espingarda. A medo abri a porta de casa e desci a escada até ao 2º piso.
A D. Clotilde tinha a sua porta aberta e estava muito nervosa no meio do patamar que separa os dois andares. Já tinha uma idade bastante avançada, mas era ainda muito enérgica e empenhada. A gesticular disse-me que já ligara para a polícia e que receava que o vizinho fizesse mal à esposa e à criança. Disse-me ainda: “Faça qualquer coisa senão aquele bêbado ainda mata a Clarisse e a Joaninha!” Eu pedi-lhe para ter calma mas na verdade estava tão ou mais apavorado do que ela. Entretanto ouviu-se mais barulho e gritos de mulher.
De repente, passaram-me pela cabeça mil imagens em catadupa, a um ritmo tão alucinante que eu mal conseguia respirar. Lembrei-me das tareias que levei do meu pai quando era criança, por tudo e por nada. Lembrei-me de como ele chegava tantas vezes bêbedo a casa e maltratava a minha mãe, batia-lhe e chamava-lhe os piores nomes, e eu não era capaz de fazer nada mesmo quando já era adolescente. Encolhia-me, ficava petrificado a olhar, com os olhos marejados em lágrimas e o coração sangrando, estilhaçado, ou fechava-me no quarto e enfiava a minha cabeça em duas almofadas. Gritava com toda a força que tinha mas ninguém me ouvia e aquele pesadelo nunca terminava. Tudo isso me revoltava, revolvia-me os interstícios e fazia-me sentir tão insignificante!
Lembrei-me também, como não podia deixar de ser, do que eu pensava ter enterrado há muito… lembrei-me de ti doce Sílvia e da nossa pequenita Diana… como tu tentaste entender-me Sílvia mas eu nunca te dei grande oportunidade para isso pois não? Nem fui capaz de te dar a atenção e o respeito que tu merecias. Nunca consegui livrar-me dos meus fantasmas e deixei que eles também atormentassem as pessoas que… hoje vejo isso… eu mais amava. Arrependo-me tanto! Quando comecei a beber demais e chegava tarde a casa não era correcto contigo. Tu bem tentaste que eu te ouvisse… mas eu nem queria saber, tão embrenhado estava nos meus problemas, traumas e ódios de estimação. Se era tão mau marido e mau pai como posso ter ficado admirado quando tu saiste de casa com a Diana, ainda ela não tinha dois anos. Comecei a beber ainda mais para esquecer tudo, pensava eu, cego em egoísmo e embalado no meu remoínho sombrio. Quando passados uns dias, sóbrio, tentado a pedir-vos perdão, quis procurar-vos em casa dos teus pais, fui abalroado pela notícia mais brutal que poderia ouvir. Vocês estavam as duas no hospital, em estado grave, após um acidente rodoviário. Acho que voei até lá!
Mas era tarde demais… A morte fora mais forte… Passei três dias e duas noites junto às vossas campas… desfeito em dor, remorso, culpa e arrependimento… até que alguém me levou para casa. Tentei desde então não mais pensar nisto tudo. As rotinas de cada dia-a-dia chato têm-me amparado, a bebida e a televisão têm-me entorpecido a mente e os sentidos… Apenas a Elisa foi um fulgor que me acompanhou sem me questionar, foi a companheira que eu não permiti ter antes, mas ainda assim não bastou para eu aprender a dar-me e ter algum brilho na vida por que me arrasto.
Tudo isto me passou num flash, foram segundos que me pareceram anos… e agora, aqui estava eu, titubeante, algures entre o 2º esquerdo e o 2º direito. Decidi: vou entrar ali! Bati à porta do 2º direito com força. “Vá-se embora, isto não é nada consigo!” Voltei a bater e perguntei o que se passava. “Saia daqui se não quer levar também!” Então passei-me mesmo. O trinco da porta não estava colocado e eu empurrei-a com quanto força tinha… entrei de rompante! No chão havia uma cadeira partida, 2 copos em cacos, vinho entornado, a um canto da sala estava a Joana, que tinha pouco mais de um ano, sentada assustada e a berrar, e sobre o chão estava a Clarisse, com a face bem inchada e um olho vermelho, a implorar ao marido, que empunhava um cinto ensaguentado, que não fizesse mal à bebé e que a deixasse pegar-lhe. Não sei o que me passou pela cabeça… só sei que me atirei àquela besta do Teixeira, encostei-o à parede, vociferei-lhe que ele não merecia a família que tinha nem merecia respirar o mesmo ar que elas, e esmurrei-o até as mãos me doerem. Apeteceu-me matá-lo… era como se me matasse a mim mesmo, … mas a tempo arrepiei caminho e deixei-o no chão a contorcer-se, semi-inconsciente. A Clarisse ainda me pediu timidamente: “Não o mate”, e tinha razão, nenhum de nós merecia tamanha baixeza… Depois ajudei-a a erguer-se e peguei na Joaninha que encostou a cabecita no meu ombro antes de eu a levar ao colo da mãe, já sentada numa cadeira. A D. Clotilde apressou-se a entrar e a abraçar ambas. “Já vem aí a polícia, vai ficar tudo bem”. Ouvi uma sirene ao longe e resolvi sair para a rua. A Clarisse agradeceu-me muito e quando saí pela porta ouvi a voz da Joaninha balbuciar: “Papáaa”. Olhei para trás, era para mim que ela olhava. Eu não era o papá mas juro pelo que é sagrado que me senti como se fosse mesmo.
Saí para a rua. Algo mais forte que eu impelia-me. Estava terrivelmente inquieto… e perdido. Vagueei durante algum tempo por ruas e becos. A certa altura estava numa viela estreita, sem passeios e com prédios dos dois lados, quando ao longe, logo a seguir a um caixote do lixo me pareceu ver uma figura humana… era estranha e havia uma espécie de luz ou chama. Não sei porquê aquela figura atraiu-me. Aproximei-me. Era um homem já de certa idade, com cabelos longos, um olhar simpático e compassivo. Vestia um casaco daqueles bem compridos, tipo capa afasta-pó como aquelas que os cowboys usavam no antigo oeste, com um chapéu a condizer. Numa das mãos tinha uma chama, pareceu-me saída de um minúsculo isqueiro (ou foi o que me pareceu naquela noite). Meio parvo, perguntei-lhe como se chamava e o que fazia ali. “Chamo-me Vigil. Aguardava por ti. Tenho algo para te dizer”. Fiquei estupefacto… “Mas como… e…”, e antes disesse algo mais adiantou: “Estou aqui agora simplesmente porque cada um de nós assim o quis”. Eu cada vez percebia menos… estava para ali a falar com um estranho… “Repara nesta chama, o que te faz lembrar?” “Faz-me pensar em fogo, luz, brilho…”, ocorreu-me. “E vida. Movimento. Nós somos deuses caídos, esquecidos da sua origem. A chama que arde em nós, tal como a chama que pode sair, por exemplo, de um isqueiro, só precisa de impulso, uma faísca, para aparecer.” “O quê? Nós somos deuses?”, perguntei incrédulo. “Sim, mas temos de o descobrir por nós mesmos, precisamos de um espelho. A chama externa é uma mera imagem da vida interior. Como esta pequena chama… se a soubermos reacender e alimentar... pelo afecto e a vontade de fazer melhor. Se a chama se tornar mais forte, já não precisamos de a procurar… cá fora”.
Nesse instante, pareceu-me ouvir um miado do outro lado do caixote. Olhei e vi uma gatinho pequeno que caminhou para mim. Virei-me novamente para o lado direito. O homem desaparecera. Senti-me mais leve mas esquisito... Posso fazer melhor? Fiquei a pensar… e ser vigilante numa selva de ilusões, desilusões, dogmas, medos, sombras, brutalidades, … num mundo impermanente onde se escondem… chamas... Peguei no gatito e mergulhei no seu olhar indigo, da cor do céu quando a noite e o dia se entrelaçam e uma luz que tudo irradia se adivinha tímida mas fortemente por todo o espaço visível, como por magia. Apeteceu-me beber água fresca. “Queres vir para casa comigo?”, perguntei-lhe. Coloquei-o no chão e ele seguiu-me. “Vou chamar-te Vigil”.
23 de Maio de 2005
Silent Child
Aqui vai então a segunda contribuição do dia para o nosso desafio, agora o autor é o SilentChild
Ainda bem que prolonguei o prazo!
continuação de boas escritas,
Der uberlende
Pressão... (ParteII)
Fiquei sem saber o que fazer… disparar a arma na ilusão de fugir cobardemente desta vidinha desgraçada em que me tenho mergulhado… ou ir ver o que se passa lá fora. Então pensei: se eu não tenho saída, se não me livro desta pressão, se já nem consigo ajudar-me nem libertar-me de uma lastimosa auto-comiseração, posso ao menos tentar ajudar alguém… se é que me resta alguma dignidade. Larguei imediatamente a espingarda. A medo abri a porta de casa e desci a escada até ao 2º piso.
A D. Clotilde tinha a sua porta aberta e estava muito nervosa no meio do patamar que separa os dois andares. Já tinha uma idade bastante avançada, mas era ainda muito enérgica e empenhada. A gesticular disse-me que já ligara para a polícia e que receava que o vizinho fizesse mal à esposa e à criança. Disse-me ainda: “Faça qualquer coisa senão aquele bêbado ainda mata a Clarisse e a Joaninha!” Eu pedi-lhe para ter calma mas na verdade estava tão ou mais apavorado do que ela. Entretanto ouviu-se mais barulho e gritos de mulher.
De repente, passaram-me pela cabeça mil imagens em catadupa, a um ritmo tão alucinante que eu mal conseguia respirar. Lembrei-me das tareias que levei do meu pai quando era criança, por tudo e por nada. Lembrei-me de como ele chegava tantas vezes bêbedo a casa e maltratava a minha mãe, batia-lhe e chamava-lhe os piores nomes, e eu não era capaz de fazer nada mesmo quando já era adolescente. Encolhia-me, ficava petrificado a olhar, com os olhos marejados em lágrimas e o coração sangrando, estilhaçado, ou fechava-me no quarto e enfiava a minha cabeça em duas almofadas. Gritava com toda a força que tinha mas ninguém me ouvia e aquele pesadelo nunca terminava. Tudo isso me revoltava, revolvia-me os interstícios e fazia-me sentir tão insignificante!
Lembrei-me também, como não podia deixar de ser, do que eu pensava ter enterrado há muito… lembrei-me de ti doce Sílvia e da nossa pequenita Diana… como tu tentaste entender-me Sílvia mas eu nunca te dei grande oportunidade para isso pois não? Nem fui capaz de te dar a atenção e o respeito que tu merecias. Nunca consegui livrar-me dos meus fantasmas e deixei que eles também atormentassem as pessoas que… hoje vejo isso… eu mais amava. Arrependo-me tanto! Quando comecei a beber demais e chegava tarde a casa não era correcto contigo. Tu bem tentaste que eu te ouvisse… mas eu nem queria saber, tão embrenhado estava nos meus problemas, traumas e ódios de estimação. Se era tão mau marido e mau pai como posso ter ficado admirado quando tu saiste de casa com a Diana, ainda ela não tinha dois anos. Comecei a beber ainda mais para esquecer tudo, pensava eu, cego em egoísmo e embalado no meu remoínho sombrio. Quando passados uns dias, sóbrio, tentado a pedir-vos perdão, quis procurar-vos em casa dos teus pais, fui abalroado pela notícia mais brutal que poderia ouvir. Vocês estavam as duas no hospital, em estado grave, após um acidente rodoviário. Acho que voei até lá!
Mas era tarde demais… A morte fora mais forte… Passei três dias e duas noites junto às vossas campas… desfeito em dor, remorso, culpa e arrependimento… até que alguém me levou para casa. Tentei desde então não mais pensar nisto tudo. As rotinas de cada dia-a-dia chato têm-me amparado, a bebida e a televisão têm-me entorpecido a mente e os sentidos… Apenas a Elisa foi um fulgor que me acompanhou sem me questionar, foi a companheira que eu não permiti ter antes, mas ainda assim não bastou para eu aprender a dar-me e ter algum brilho na vida por que me arrasto.
Tudo isto me passou num flash, foram segundos que me pareceram anos… e agora, aqui estava eu, titubeante, algures entre o 2º esquerdo e o 2º direito. Decidi: vou entrar ali! Bati à porta do 2º direito com força. “Vá-se embora, isto não é nada consigo!” Voltei a bater e perguntei o que se passava. “Saia daqui se não quer levar também!” Então passei-me mesmo. O trinco da porta não estava colocado e eu empurrei-a com quanto força tinha… entrei de rompante! No chão havia uma cadeira partida, 2 copos em cacos, vinho entornado, a um canto da sala estava a Joana, que tinha pouco mais de um ano, sentada assustada e a berrar, e sobre o chão estava a Clarisse, com a face bem inchada e um olho vermelho, a implorar ao marido, que empunhava um cinto ensaguentado, que não fizesse mal à bebé e que a deixasse pegar-lhe. Não sei o que me passou pela cabeça… só sei que me atirei àquela besta do Teixeira, encostei-o à parede, vociferei-lhe que ele não merecia a família que tinha nem merecia respirar o mesmo ar que elas, e esmurrei-o até as mãos me doerem. Apeteceu-me matá-lo… era como se me matasse a mim mesmo, … mas a tempo arrepiei caminho e deixei-o no chão a contorcer-se, semi-inconsciente. A Clarisse ainda me pediu timidamente: “Não o mate”, e tinha razão, nenhum de nós merecia tamanha baixeza… Depois ajudei-a a erguer-se e peguei na Joaninha que encostou a cabecita no meu ombro antes de eu a levar ao colo da mãe, já sentada numa cadeira. A D. Clotilde apressou-se a entrar e a abraçar ambas. “Já vem aí a polícia, vai ficar tudo bem”. Ouvi uma sirene ao longe e resolvi sair para a rua. A Clarisse agradeceu-me muito e quando saí pela porta ouvi a voz da Joaninha balbuciar: “Papáaa”. Olhei para trás, era para mim que ela olhava. Eu não era o papá mas juro pelo que é sagrado que me senti como se fosse mesmo.
Saí para a rua. Algo mais forte que eu impelia-me. Estava terrivelmente inquieto… e perdido. Vagueei durante algum tempo por ruas e becos. A certa altura estava numa viela estreita, sem passeios e com prédios dos dois lados, quando ao longe, logo a seguir a um caixote do lixo me pareceu ver uma figura humana… era estranha e havia uma espécie de luz ou chama. Não sei porquê aquela figura atraiu-me. Aproximei-me. Era um homem já de certa idade, com cabelos longos, um olhar simpático e compassivo. Vestia um casaco daqueles bem compridos, tipo capa afasta-pó como aquelas que os cowboys usavam no antigo oeste, com um chapéu a condizer. Numa das mãos tinha uma chama, pareceu-me saída de um minúsculo isqueiro (ou foi o que me pareceu naquela noite). Meio parvo, perguntei-lhe como se chamava e o que fazia ali. “Chamo-me Vigil. Aguardava por ti. Tenho algo para te dizer”. Fiquei estupefacto… “Mas como… e…”, e antes disesse algo mais adiantou: “Estou aqui agora simplesmente porque cada um de nós assim o quis”. Eu cada vez percebia menos… estava para ali a falar com um estranho… “Repara nesta chama, o que te faz lembrar?” “Faz-me pensar em fogo, luz, brilho…”, ocorreu-me. “E vida. Movimento. Nós somos deuses caídos, esquecidos da sua origem. A chama que arde em nós, tal como a chama que pode sair, por exemplo, de um isqueiro, só precisa de impulso, uma faísca, para aparecer.” “O quê? Nós somos deuses?”, perguntei incrédulo. “Sim, mas temos de o descobrir por nós mesmos, precisamos de um espelho. A chama externa é uma mera imagem da vida interior. Como esta pequena chama… se a soubermos reacender e alimentar... pelo afecto e a vontade de fazer melhor. Se a chama se tornar mais forte, já não precisamos de a procurar… cá fora”.
Nesse instante, pareceu-me ouvir um miado do outro lado do caixote. Olhei e vi uma gatinho pequeno que caminhou para mim. Virei-me novamente para o lado direito. O homem desaparecera. Senti-me mais leve mas esquisito... Posso fazer melhor? Fiquei a pensar… e ser vigilante numa selva de ilusões, desilusões, dogmas, medos, sombras, brutalidades, … num mundo impermanente onde se escondem… chamas... Peguei no gatito e mergulhei no seu olhar indigo, da cor do céu quando a noite e o dia se entrelaçam e uma luz que tudo irradia se adivinha tímida mas fortemente por todo o espaço visível, como por magia. Apeteceu-me beber água fresca. “Queres vir para casa comigo?”, perguntei-lhe. Coloquei-o no chão e ele seguiu-me. “Vou chamar-te Vigil”.
23 de Maio de 2005
Silent Child
3 Comments:
Sempre à procura de um sentido, da redenção, da luz ao fundo túnel, hein? :-)
Acho que foi dos poucos a tentar "salvar" este cidadão do suicídio ou de um futuro a Prozacs. ;-)
Vigil? De onde veio o nome?
Seja bem aparecido.
By Anonymous, at 11:47 PM
Sim... penso que tudo tem um sentido... mesmo quando parece não haver sentido. Este texto deveria ter duas dedicatórias: antes de mais ao autor da primeira parte que lançou este fascinente desafio e depois, claro, a Fish - Vigil in a Wilderness of Mirrors e Raingods With Zippos são títulos de dois dos melhores álbuns de Fish... lembram-se... era o vocalista dos Marillion... "I'll keep a vigil in a wilderness of mirrors... where nothing is exactly what it seems..." Abraços,
By Anonymous, at 12:09 AM
Claro que me lembro do Fish. O do: "Do you remember the cherryblossom in the market square? Do you remember? I thought it was confetti in our hair..." Ultimo gajo que me passaria pela cabeça agora.
O Vigil fez-me lembrar outra personagem que aparece do nada(embora não seja nem parecido no estilo), com mensagens desconcertantes: o "V", do fenomenal cássico de BD "V for Vendetta", do Alan Moore. Este é mais angélico.
By Anonymous, at 1:14 AM
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