Lua (agora versão completa, espero!!); 500 palavras by Stela
“Tenho uma relação muito especial com a Lua”, disse ela. Na cara, o mesmo sorriso enigmático de sempre, de quem sabe tudo e não sabe nada. Fizemos apostas, silenciosamente, cada uma para si. Mais tarde, já sem a sua presença, comentámos na galhofa o que nos passou pela cabeça.
- Cá para mim, ela veio foi da Lua, daí a relação tão especial…
(risos)
- Ou então é uma super-heroína, que vai buscar forças a um mineral que só há na Lua!
- Como o Super-Homem!
- Não, estúpida, o Super-Homem era o contrário… A kriptonite dava cabo dele.
- Ai, é verdade…
-Ela tem é mais ar de serial killer. Com aquele ar de «eu sou tão boazinha!»… Vai na volta, tem cadáveres escondidos na arca congeladora!
(gargalhadas sonoras)
- Que horror, somos tão mazinhas…
- Pobre rapariga. Ela deve sentir-se sozinha.
De solidão percebo eu bem. Mas dela, quanto mais descobria, menos percebia. E os homens?
- Não gostei da forma como ela olhou para o Tiago.
- Porquê?
- Parecia que o estava a querer comer com os olhos! Será que ela não percebeu que ele é o MEU namorado?
- Se calhar é melhor pores um letreiro, da próxima vez.
- «GAJO COM DONA!» Achas suficientemente explícito? Ela é um pouco lentinha…
(risos)
Eu sabia que ela era virgem. Dizia-me que nem sequer pensava em rapazes, mas eu via o mesmo que a minha amiga. Aquela ânsia no olhar, como uma predadora à espera.
- E aquelas roupas?!
- Onde é que ela vai buscar aquilo…
- Coitada...
Coitadas de nós, que não podemos ver uma alma impermeável ao nosso escrutínio sem a querermos destruir. Impermeável?
- Sara?
- Sim…
- Porque é que me estás a telefonar a esta hora?...
- Era só para dizer adeus.
Adormeci de novo, no fundo da minha mente o “adeus” ecoando cada vez mais ao longe. Acordei suada. Adeus? O telemóvel tocava novamente.
- Joana…
- Diz, Carla…
- A Sara… está morta.
- O quê?!
Saltei da cama, o coração aos pulos a sensação familiar do tempo a correr contra a minha vontade, do sangue a fugir, a fugir…
- Ontem à noite… Cortou os pulsos.
- Então era isso, o adeus… - murmurei.
- Quê?
As lágrimas corriam agora pela minha cara e sentia os primeiros sinais de um vómito iminente.
- Ela telefonou-me ontem, eram umas 3 da manhã… Só que eu estava completamente ferrada, e voltei a adormecer logo depois de desligar, nem me dei bem conta do que ela me disse…
- Às 3 da manhã? Deves estar enganada. Os pais encontraram-na na casa de banho à meia-noite, ela já estava morta…
O telemóvel caiu-me da mão, em câmara lenta. Peguei-lhe de novo, sem forças. Terminei a chamada com a Carla, que continuava a falar do outro lado da linha. Registo de chamadas… Chamadas recebidas. Última chamada: Carlita, 08h25. Penúltima chamada: Sara Casa, 02h57.
“Tenho uma relação muito especial com a Lua”, dizia ela.
- Cá para mim, ela veio foi da Lua, daí a relação tão especial…
(risos)
- Ou então é uma super-heroína, que vai buscar forças a um mineral que só há na Lua!
- Como o Super-Homem!
- Não, estúpida, o Super-Homem era o contrário… A kriptonite dava cabo dele.
- Ai, é verdade…
-Ela tem é mais ar de serial killer. Com aquele ar de «eu sou tão boazinha!»… Vai na volta, tem cadáveres escondidos na arca congeladora!
(gargalhadas sonoras)
- Que horror, somos tão mazinhas…
- Pobre rapariga. Ela deve sentir-se sozinha.
De solidão percebo eu bem. Mas dela, quanto mais descobria, menos percebia. E os homens?
- Não gostei da forma como ela olhou para o Tiago.
- Porquê?
- Parecia que o estava a querer comer com os olhos! Será que ela não percebeu que ele é o MEU namorado?
- Se calhar é melhor pores um letreiro, da próxima vez.
- «GAJO COM DONA!» Achas suficientemente explícito? Ela é um pouco lentinha…
(risos)
Eu sabia que ela era virgem. Dizia-me que nem sequer pensava em rapazes, mas eu via o mesmo que a minha amiga. Aquela ânsia no olhar, como uma predadora à espera.
- E aquelas roupas?!
- Onde é que ela vai buscar aquilo…
- Coitada...
Coitadas de nós, que não podemos ver uma alma impermeável ao nosso escrutínio sem a querermos destruir. Impermeável?
- Sara?
- Sim…
- Porque é que me estás a telefonar a esta hora?...
- Era só para dizer adeus.
Adormeci de novo, no fundo da minha mente o “adeus” ecoando cada vez mais ao longe. Acordei suada. Adeus? O telemóvel tocava novamente.
- Joana…
- Diz, Carla…
- A Sara… está morta.
- O quê?!
Saltei da cama, o coração aos pulos a sensação familiar do tempo a correr contra a minha vontade, do sangue a fugir, a fugir…
- Ontem à noite… Cortou os pulsos.
- Então era isso, o adeus… - murmurei.
- Quê?
As lágrimas corriam agora pela minha cara e sentia os primeiros sinais de um vómito iminente.
- Ela telefonou-me ontem, eram umas 3 da manhã… Só que eu estava completamente ferrada, e voltei a adormecer logo depois de desligar, nem me dei bem conta do que ela me disse…
- Às 3 da manhã? Deves estar enganada. Os pais encontraram-na na casa de banho à meia-noite, ela já estava morta…
O telemóvel caiu-me da mão, em câmara lenta. Peguei-lhe de novo, sem forças. Terminei a chamada com a Carla, que continuava a falar do outro lado da linha. Registo de chamadas… Chamadas recebidas. Última chamada: Carlita, 08h25. Penúltima chamada: Sara Casa, 02h57.
“Tenho uma relação muito especial com a Lua”, dizia ela.
5 Comments:
Requiem para Sara (nem tudo o que brilha é ouro, nem tudo o que morre é negro - Nulla in Mundo Pax Sincera...)
Marillion - Chelsea Monday (Script for a Jester's Tear)
Catalogue princess, apprentice seductress
Hiding in her cellophane world in glitter town
Awaiting the prince in his white capri
Dynamic young tarzan courts the bedsit queen
She’s playing the actress in this bedroom scene
She’s learning her lines from glossy magazines
Stringing all her pearls from her childhood dreams
Auditioning for the leading role on the silver screen
Patience my tinsel angel, patience my perfumed child
One day they really love you, you’ll charm them with that smile
But for now it’s just another chelsea monday
Chelsea monday
Tju
In the city of dreamers...
Drifting with her incense in the labyrinth of london
Playing games with faces in the neon wonderland
Perform to scattered shadows on the shattered cobbled aisles
Would she dare recite soliloquies at the risk of stark applause
To chelsea monday
She’ll pray for endless sundays as she enters saffron sunsets
Conjure phantom lovers from the tattered shreds of dawn
Fulfilled and yet forgotten the st. tropez mirage
Fragrant aphrodisiac, the withered tuberose
Of chelsea monday
Sweet chelsea monday
Patience my tinsel angel, patience my perfumed child
One day they really love you, you’ll charm them with that smile
But for now it’s just another chelsea monday
Sweet chelsea monday
Voice: hello john, did you see the standard about four hours ago?
Fished a young chick out of the old father (i.e., The river Thames)
Blond hair, blue eyes
She said she wanted to be an actress or something
Nobody knows where she came from, where she was going
Funny thing was she had a smile on her face
She was smiling
What a waste!
Catalogue princess, apprentice seductress
Buried in her cellophane world in glitter town
Of chelsea monday
Chelsea monday
She was only dreaming
By Der Überlebende, at 9:26 PM
Nao sei porque mas da primeira vez, nao consegui publicar o texto completo. Agora ja reeditei. A ver se é desta...
By smallworld, at 9:27 AM
Senti os vómitos e o sabor amargo na boca ao ler este texto... Provavelmente o que a Joana sentiu quando ouviu a notícia da Morte da Sara... Muito especial, muito intrigante, muito envolvente...***
By rita, at 11:50 AM
ok, ler o teu texto foi a primeira coisa que fiz esta manha... não, segunda após a mijinha matinal, mas isso agora não interessa nada.
Apetece-me voltar para a cama. Fora isso,está espectacular. Vejo nas entrelinhas da tua história muitas coisas que não são para aqui chamadas, mas é sempre bom ser testemunha de como uma escritora (sim, escritora, não abras boca que entra mosca, se quisesses poderias publicar!Já li coisas com muito menos qualidade...)consegue passar vivências para o "papel" de uma forma simples porém arrasadora.
Adorei e... vou-me enroscar no sofá, tá? :P Jinhos
By Anonymous, at 10:26 AM
Nesta história toda o que mais me impressionou e chocou não foi propriamente a morte da Sara, mas sim a conversa entre as duas amigas, a crueza das suas sensibilidades, os julgamentos maus sobre a Sara. Arrepio-me só de pensar que "amigas" podem ter o mesmo tipo de conversas acerca de mim nas minhas costas...
By Eduarda Sousa, at 2:01 PM
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