Luz e Sombra

Friday, April 29, 2005

Um homem com uma criança ao colo, by impressãodigital; 500 palavras

É com muito orgulho e prazer que publico aqui um texto de uma amiga, colega de turma, conselheira matrimonial e sentimental, compincha das ganzas (bem aqui estou a brincar mas só aqui :) Já não era sem tempo, eu que a ensinei a criar o seu blog, a pôr imagens, a pôr os links... e só agora é me responde ao desafio 500? É esta a tua paga?

Directamente das
LeituraSilenciosas, é com muita admiração e orgulho que aqui o publico:

Ontem fiz uma visita ao hospital. Não foi nada demais, uma tosse que me perseguia há algum tempo foi o motivo, ficou tudo em bem.
Mas o que me impressionou nesta ida ao hospital, não foi tanto a confusão das macas, o corre- corre dos médicos e dos enfermeiros, a antipatia da enfermeira chefe ou a má disposição de uma das médicas, ou ainda os doentes, uns melhores do que outros, mas todos a queixarem-se, o que me impressionou foi um homem com uma criança ao colo.
Eu estava na sala do raio-x à espera de vez, esse homem estava com a criança, dos seus dois anos - calculei que fosse pai e filho – tentando acalmar o seu nervosismo manifestado em choro; o pai embalava-o, contava-lhe pequenas histórias tentando faze-lo rir, dava-lhe abraços, beijos, dava-lhe as chaves do carro para ele brincar, foi-lhe comprar um chocolate, mas nada impedia o miúdo de chorar, de se sentir irritado, com medo... Notei que a criança apertava com muita força o dedo do pai quando se aproximava alguém de bata branca e calava-se num soluço apertado, para logo o libertar quando a personagem branca passava, cheguei a sorrir-me nessas alturas...
Fiquei algum tempo a observa-los (era da maneira que não olhava para o meu cateter), o pai limpava-lhe os olhos e pedia-lhe que se acalmasse...a figura do pai: terna, serena, calma, confiante, cheia de certezas, com um sorriso.
Cheguei a sentir-me também eu embalada, quando o pai lhe cantava, cheguei quase a sentir a força do abraço daquele pai e sorri... nenhum dos dois se apercebeu, a criança porque chorava com a cabeça encostada ao ombro do pai e o pai porque só tinha olhos para o filho e eu olhava-os sem sequer disfarçar.
Estavam à espera do médico, que apareceu ao cabo de hora e meia, trazia uns papeis nas mãos, nessa altura já a criança se calara, cansada acabara por adormecer ao colo do pai...O pai também em silêncio ouviu o médico, olhou um dos papeis e com um grito sufocado correu até à janela apertando o filho contra si; o médico correu até ele, tentou acalma-lo...a figura do médico: serena, calma, confiante, sem certezas e sem sorriso.
Quase que senti a aflição daquele homem, que mesmo estando a sofrer, mesmo estando agitado, tentava não acordar o filho e não consegui evitar que as lagrimas me corressem pela face e escondi-me atrás da falsa dor que sentia e que talvez justificasse o cateter, mas o pai nem para mim olhou... Somente olhou o médico nos olhos, mas com o ar de quem nem o estava a ver, e seguiu calmamente até à cadeira mais próxima e chorou...
Quando saí daquela sala, levei comigo um nó no peito, na garganta, olhei para trás e vi o médico com a mão no ombro do homem e vi um homem num choro de nervos, de medo, de aflição, enquanto em jeito de embalo se mexia na cadeira. A criança, o filho, continuava a dormir.

Adoro-te amiga!***

5 Comments:

  • rapariga, assim poes-me a chorar!
    e agora tenho que limpar esta agua salgada dos olhos!
    muito obrigada pelas tuas palavras nem imaginas o que significam para mim...e eu é que tenho muito orgulho em participar neste teu desafio...cheguei tarde mas vim! :)

    ah! espero que tenhas gostado,mas espero fazer melhor para este teu canto1

    jinhux

    By Anonymous Anonymous, at 4:32 PM  

  • o filho continuou a dormir, mas e quando acordar?
    será que o pai vai continuar a sorrir da mesma forma para ele?

    senti-me triste ao ler este texto...senti que ha pais, ha filhos que não merecem isto... senti que cada um de nós devia assistir a cenas dessas (ja que existem) para que possamos, talvez, tornarmo-nos mais humanos, mais sinceros...
    parabéns

    By Anonymous Anonymous, at 4:41 PM  

  • é um prazer enorme encontrar-te aqui impressaodigital!

    comento pouco o que escreves mas sabes que gosto... :)

    By Anonymous Anonymous, at 10:05 PM  

  • Tens uma sensibilidade à flor da pele, sabes observar, sabes ver para além de… consegues afastar-te facilmente de ti e sentir o que o outro sente, ouvir o que o outro diz, ver o que o outro vê. Não me deixas de surpreender e impressionar a cada leitura que faço dos teus textos. Continuarei a seguir-te atentamente. Beijinho

    By Blogger Eduarda Sousa, at 2:24 PM  

  • Cara impressãodigital,

    Não é para mim nada facil comentar este teu texto, pois como deves ter percebido por textos anteriores, sou pai de uma menina que hoje completa 4 semanitas. Além disso, ainda sou tio de um menino de 5 anitos que adoro.

    Portanto, vou fazer batota, e deixar as minhas palavras na mão dos Anathema:

    Emotional Winter (Judgement, 1999)

    Speak to me
    For I have seen
    Your waning smile
    Your scars concealed
    So far from home, do you know you're not alone
    Sleep tonight
    Sweet summer light
    Scattered yesterdays, the past is far away

    How fast time passed by
    The transience of life

    Wasted moments won't return
    And we will never feel again

    Beyond my dreams
    Ever with me
    You flash before my eyes, a final fading sigh
    But the sun will rise
    And tears will dry
    Of all that is to come, the dream has just begun

    And time is speeding by
    The transience of life

    Wasted moments wont return
    And we will never feel again

    [Lyrics: V.Cavanagh, Music: D.Cavanagh]

    By Blogger Der Überlebende, at 12:04 AM  

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