Luz e Sombra

Sunday, May 08, 2005

3-0; 500 palavras para um blog by puta_madre

Uma contribuição agri-doce da puta_madre (credo, pensa lá em mudar de nick, mulher!) para este nosso (vosso) cantinho. Enjoy!

No dia do seu aniversário, levantou-se por volta das 6 e 30 da manhã, tomou o duche mais rápido da sua vida e enfiou a roupa que havia escolhido no dia anterior para evitar perder mais meia hora a olhar para o armário. Este ano não a iriam apanhar. Nada de condescendência, nada de “toda a gente celebra, nem que seja com um jantar”, nada de “pensa em nós que gostaríamos de festejar contigo”.

Não! No dia em que fazia 30 anos de vida ninguém lhe diria a mais odiosa palavra que os seus ouvidos poderiam ouvir: “Parabéns!”. Não podia apostar no plano inicial, o de se enfiar na cama o dia todo. Primeiro, porque iriam chateá-la até à raiz dos cabelos e acabaria por se levantar antes de os mandar todos à merda. Segundo, porque realisticamente falando, não seria capaz. Só havia uma solução: transformar-se na versão feminina do Houdini.

Levaria na mochila tudo o que necessitava para passar um dia agradável, dadas as circunstâncias. Dois livros, o leitor MP3, o discman e carradas de cds, algum dinheiro, uma garrafa de água, um pacote de bolachas, duas barritas de cereais, toalha de praia e protector solar, a máquina fotográfica e o telemóvel desligado. Saiu porta fora munida das chaves do carro numa mão e da Premiere na outra.
Decididamente, tinha que ver se arranjava um leitor de DVDs portátil.

Chegada às 4 Águas, não espera muito pelo barco. Ainda era do tempo em que as filas iam das escadinhas até ao princípio do cais, perdendo-se horas de sol precioso. Como acontece sempre que o seu pensamento vagueia, melodias e letras de músicas acompanham a “dança”. “Nada será como dantes”... Nem mesmo o trajecto para a ilha. A excitação de menina à chegada de cada Verão desapareceu por completo. Mergulhar a mão na água à medida que o barco se deslocava, ver as gaivotas a pilhar as traineiras que passavam... Gone, all gone.

Arrival. À medida que caminha até à praia ao ritmo do som das cigarras na mata circundante, anima-se. “Vou alugar um toldo logo na primeira fila – a ver se encurto a distância até à água!”. Mas ao chegar à praia relembra o horror que sentiu ao vislumbrar “o” cenário: no lugar dos tradicionais toldos estavam umas sobrinhas em palhota, muito ao estilo das praias do Nordeste Brasileiro. Tinha varrido da sua mente esta imagem. Pronto – “pode ser a gota de água” e foi mesmo.

Puta que os pariu! Como se atrevem a destruir os locais sagrados da minha vida? Deixou-se cair à sombra do painel de informações do Parque Natural da Ria Formosa. Sentada com os joelhos dobrados, bateu três vezes os chinelos vermelhos que trazia calçados um contra o outro dizendo “Eu quero uma máquina do tempo, eu quero uma máquina do tempo, eu quero uma máquina do tempo”. Desesperada por não conseguir conter as lágrimas, irrita-se ainda mais com a sua atitude infantil. Toda a gente sabe que estas coisas só funcionam com sapatinhos vermelho-rubi.

3 Comments:

  • Como ja te disse, acho que consegues equilibrar muito bem o tragico e o comico. O ultimo paragrafo esta excelente, sente-se mesmo a frustracao da personagem, mas percebe-se que ela propria encara a situacao com ironia. Bolas, eh dificil comentar textos de alguem tao proximo de mim, agora vejo os sarilhos em que te meto... Mas continua, fofa, continua sempre ate varreres o "agri" e ficares so com o doce, que eh a tua verdadeira natureza... Eu sei! :)

    By Blogger smallworld, at 10:56 AM  

  • lindo! gostei muito, muito! está bem escrito e simples e engraçado e identifico-me, e quem me dera poder fugir para a praia em tantos dos meus aniversários! que pena serem só 500 palavras! soube a pouco!

    By Anonymous Anonymous, at 2:13 PM  

  • também gostei muito, muito, muito, muito... onde estarei eu no meu trigésimo aniversário? com quem? aonde?

    bem vinda puta_madre

    By Blogger Eduarda Sousa, at 3:00 PM  

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