Luz e Sombra

Saturday, July 24, 2004

Férias

Vou passar férias com os meus amigos, levo a "A máquina de Joseph Walser" de Gonçalo M. Tavares, "As três sereias" de Irving Wallace e "Ficções" de Jorge Luis Borges. Sei que vai ser dificil arranjar tempo para ler, talvez à noite... 

Tuesday, July 20, 2004

O vendedor de passados

   Demorei cerca de 3 dias a devorar "o vendedor de passados" de José Eduardo Agualusa.  O narrador é uma osga, que noutra vida já foi uma pessoa. Félix Ventura, personagem central, vende passados falsos a quem quer ter uma nova família, uma nova  vida, enfim, um futuro diferente! É então que lhe entra  pela casa dentro um angolano à procura de uma nova genealogia e a fantasia começa a desenrolar-se em redor destas personagens e de outras que vão aparecendo.
 
Dez anos depois de ler um livro de Jorge Luís Borges, José Eduardo Agualusa  lembrou-se de uma passagem do livro que lhe serviu de inspiração e mote para escrever "o vendedor de passados". Aparece logo no início do livro: "Se tivesse de nascer outra vez escolheria algo totalmente diferente. Gostaria de ser norueguês. Talvez persa. Uruguaio não, porque seria como mudar de bairro" 
 
A apresentação deste livro coube a António Lobo Antunes que enalteceu rasgadamente o talento do, segundo ele, melhor escritor da sua geração e de muitas outras gerações. 
O que eu não dava para poder ter visto o sisudo e mal humorado do Lobo Antunes prestar-se a tal eloquência.
 
Duas passagens:
"A realidade é dolorosa e imperfeita" dizia-me, "essa é a sua natureza e por isso a distinguimos dos sonhos. Quando algo nos parece muito belo pensamos que só pode ser um sonho e então beliscamo-nos para termos a certeza de não estarmos a sonhar - se doer é porque não estamos a sonhar. A realidade fere, mesmo quando, por instantes, nos parece um sonho. Nos livros está tudo o que existe, muitas vezes em cores mais autênticas, e sem a dor verídica de tudo o que realmente existe. Entre a vida e os livros, meu filho, escolhe os livros." 
 
"A verdade é improvável." (...) "A mentira, explicou, "está por toda a parte. A própria natureza mente. O que é a camuflagem, por exemplo, senão uma mentira? O camaleão disfarça-se de folha para iludir a pobre borboleta". 
 
Enfim, um livro a reler novamente...    

Monday, July 19, 2004

Na praia

Sinto-me como quando um pastor vai à praia e fica com as botas cheias de areia

Sobre a leitura

"A paixão pela leitura pode levar a duas espécies de perversões: a do erudito, que procura a verdade em toda a parte menos em si, e que crê dispor dela como
 
uma coisa material, depositada entre as folhas dos  livros como um mel totalmente preparado pelos outros e que nós temos apenas de ir às prateleiras das bibliotecas e saborear em seguida passivamente num perfeito repouso de corpo e de espírito.
 
E a do "letrado", que afecta um "respeito fetichista" pelos livros, mas que de facto, lê por ler, passivamente, "para reter o que leu" e não para neles descobrir a verdade ou a recrear:
 
Para ele, o livro não é o anjo que evola mal abriu as portas do jardim celeste, mas um ídolo imóvel, que ele adora por si mesmo, que, em vez de receber uma dignidade verdadeira dos pensamentos que desperta, comunica uma dignidade factícia a tudo que a cerca."
 
E tu? és um erudito ou um letrado?

Thursday, July 15, 2004

O meu desassossego

"Fernando Pessoa transformou a biografia prosaica de um pequeno funcionário de escritório num Livro do Desassossego que é, talvez, a obra mais interessante da literatura portuguesa"
"O vendedor de passados" - José Eduardo Agualusa

O meu desassossego é já ter pegado, pelo menos umas três vezes, neste livro e ainda não ter conseguido ler. Os meus 19 aninhos são os responsáveis! falta-me o estofo e a bagagem para tal empreendimento...

Escrever

"A ginástica do aspirante a escritor é a leitura, quanto mais você ler, melhor"

"O papel do escritor é fazer o leitor ver o que, ele escritor, viu"

de Rubem Fonseca

Diário de uma bibliófila(I)

Agora: internet
A seguir: ler
22h30: ver Livro Aberto na RTPn
Depois: ler

Ignorância

“Ser-se iletrado! Que sorte, que meio de sobrevivência num mundo votado ao massacre! Gohar chegara à seguinte conclusão fundamental: o poder sanguinário não exercia influência nenhuma sobre indivíduos que não liam jornais. A angústia não era coisa que atingisse essas pessoas.”
“Mendigos e Altivos” – Albert Cossery

Por vezes a ignorância é uma arma de defesa eficaz contra a loucura e insanidade do mundo.

Tuesday, July 13, 2004

Albert Cossery

No final de "Mendigos e Altivos" vêm um anexo com excertos de entrevistas concedidas por Albert Cossery. Destas entrevistas destaco:

"A preguiça pode dar-nos tempo necessário à reflexão."

"Porque a vida é muito simples, e tudo é feito para que pareça complicada."

"A partir do momento em que uma pessoa não tem qualquer ambição de dinheiro, de orgulho ou de poder, a vida torna-se de repente formidável."

"Escrevo para afirmar a minha presença nesta terra. Fui feliz na infância porque já então era leitor de grandes autores. A eles devo o que sou. Se um determinado livro não tiver sobre o leitor tal impacto que no dia seguinte ele deixe de ir ao emprego, esse livro não vale nada"
"Mendigos e Altivos" teve sobre mim tal impacto que hoje sinto-me uma pessoa diferente da de ontem...

"Queria ser escritor, escritor ou coisa nenhuma. Devo tudo aos livros. Mesmo na pior das desgraças, se tivermos um grande livro, sentimo-nos como um rei. Sinto, é verdade, pena de não ter escrito em árabe."

"Não consigo comunicar com os adultos, porque nada tenho em comum com eles. Têm uma carreira a defender, têm dinheiro para ganhar, não são interessantes e não têm piada nenhuma."

Colecção Jornal de Notícias

A comprar:

8 -11 de Agosto
Fiodor Dostoievski
O Idiota

Sobre a alegria

"A imensa desmoralização que certos espíritos ditos superiores exerciam sobre a humanidade parecia-lhe provir da pior das criminalidades. Dirigia a sua estima de preferência às pessoas simples e comuns, que não eram poetas, nem pensadores, nem ministros, mas simplesmente gente em quem morava uma alegria nunca extinta. O valor verdadeiro de cada ser correspondia, para Ieguene, à quantidade de alegria capaz de albergar. Como se podia ser inteligente e triste?""
"Mendigos e Altivos" - Albert Cossery

É esta simplicidade e alegria que procuro persistentemente na vida.
E o desejo de encontrar e de me dar a pessoas simples mas profundamente interessantes e desenvolvidas espiritualmente.

Monday, July 12, 2004

"Mendigos e Altivos"

Como estava enganada acerca de “Mendigos e Altivos” de Albert Cossery. Ainda não tinha conseguido agarrar-me à estória. Mas depois, ai que deliciosa e extasiante esta filosofia de vida... e quando o livro chegou ao fim? A pena. Queria continuar envolvida durante horas, dias, meses a fio... ouvindo atentamente o mestre Gohar, o poeta Ieguene e o revolucionário El Kordi.
E fazendo das palavras de Albert Cossery as minhas “mesmo na pior das desgraças, se tivermos um grande livro, sentimo-nos como um rei”.
E é como eu me sinto.

Cem anos de solidão



As dificuldades eram tantas que Gabriel Marcía Marquez para escrever "Cem anos de solidão" teve que empenhar a torradeira!
Ainda não li este livro mas figura na minha lista de futuras aquisições.

Sunday, July 11, 2004

Pablo Neruda

Pablo Neruda, fará amanhã, que nasceu há cem anos.


Poema XX
Posso escrever os versos
mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo,
"A noite tem estrelas,
e, azuis, os astros tiritam
na distância".
O vento nocturno gira
no céu e canta.
Posso escrever os versos
mais tristes esta noite.
Eu amei-a e, por vezes,
ela também me quis.
Em noites como esta tive-a
nos meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o
céu infinito.
Ela quis-me e por vezes eu
também lhe queria.
Como não ter amado seus
grandes olhos firmes?
Posso escrever os versos
mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho.
E sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais
imensa sem ela.
E o verso cai na alma qual
no prado o rocio.
Que importa que o meu
amor não pudesse
guardá-la!
A noite tem estrelas e ela não
está comigo.

"Pablo Neruda tinha já a ambição de não terminar em si mesmo, queria viajar, conhecer pessoas fascinantes e artistas por todo o mundo."

Um poeta a ler futuramente...

Sylvia Plath

Estou embriagada de Sylvia Plath e tal como ela tento "aprender o sossego, deitada sozinha silenciosamente".

Como é difícil suportar a solidão, o sossego e o silêncio.

Tenho

A cabeça cheia de livros e sonhos...
Livros que quero ler,
Livros que nunca lerei,

A vida é curta demais...

Saturday, July 10, 2004

A ler

À dias fui à bertrand disposta a comprar "O vendedor de passados" de José Eduardo Agualusa. Mas acabei por trazer "Mendigos e Altivos" de Albert Cossery que já há muito estava para comprar. Vou a meio do livro e sinceramente estou ligeiramente desapontada, esperava mais deste autor... O primeiro capítulo é interessante mas depois a estória vai-se tornando cansativa e monótona. No final traz excertos de entrevistas concedidas por Albert Cossery, esses sim, verdadeiramente deliciosos e de sorver num fôlego. Estou também a ler "A loucura da normalidade" de Arno Gruen que vou exaustivamente sublinhando e tirando notas. Fala sobre a destrutividade humana e lembra-me o "Gente da mentira" de Scott Peck que li à cerca de um ano. De poesia, leio "Ariel" de Sylvia Plath. E de filosofia "o homem à conquista do seu destino" de Omraam Mikhael Aivanhov.

Friday, July 09, 2004

"O caso passou-se há pouco tempo, numa aldeola do Baixo Egipto, durante as eleições para a junta de freguesia. Quando os funcionários do Governo abriram as urnas, notaram que na maioria dos boletins de voto estava escrito o nome Bargute. Ora os ditos funcionários do Governo não conheciam tal nome, que não figurava na lista de nenhum partido. Inquietos, logo se puseram à cata de informações; e acabaram por saber, pasmados de todo, que Bargute era nome dum burro por quem toda a gente da aldeia nutria muita estima, por via da sabedoria do animal. Quase todos os moradores tinham votado nele(...). É claro que não foi eleito. Estás tu a ver um burro de quatro patas! O que eles queriam, lá os do Governo, era um burro só de duas patas!"

E o novo primeiro ministro de Portugal é Santana Lopes
E assim começa este blog...


 

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