Luz e Sombra

Saturday, January 29, 2005

O estranho caso do cangurito

Uma história tão simples e verdadeira...
Eu felizmente consegui sair da bolsa, mas foi difícil, muito difícil e ainda hoje luto para não voltar para lá!


1. A Mamã Canguru guardava-o na sua bolsa e não o deixava crescer livremente.

2. Cangurito colocou a sua cabecita fora da bolsa, olhou à sua volta e exclamou: "Mamã, que grande é o mundo! Quando é que me deixas sair por aí à descoberta?".

3. A Mamã Canguru respondeu: "Eu própria vou mostrar-to, sem que precises de sair da bolsa. Não quero que te juntes a más companhias, nem que te exponhas aos perigos do bosque. Eu sou uma canguru responsável e decente".

4. Cangurito suspirou profundamente e deixou-se ficar na bolsa da sua mãe, sem protestar... Aos poucos, Cangurito foi crescendo, crescendo... de tal forma que a bolsa da Mamã Canguru começou a rebentar pelas costuras.

5. Ao ver que o filho já quase não cabia na sua bolsa, a Mamã Canguru disse-lhe: "Proíbo-te de continuares a crescer...". Cangurito, obediente, a partir desse momento deixou de crescer.

6. Entretanto, de dentro da bolsa da sua mãe, Cangurito começou a fazer perguntas acerca de tudo aquilo que via à sua volta. Era um animalzinho muito inteligente e mostrava que tinha muito jeito em Matemática.

7. Como não era fácil encontrar as respostas que satisfizessem a curiosidade do seu filhote, a Mamã Canguru ficava muito aborrecida e um dia disse-lhe: "Proíbo-te de voltares a fazer tantas perguntas."

8. Cangurito, que cumpria as normas de obediência dos pais, deixou de fazer perguntas... e ficou com cara de aborrecido.

9. Um dia, Cangurito viu passar uma Cangurita da mesma idade. Era a "canguru" mais bonita que ele jamais tinha visto em toda a sua vida! E, enchendo-se de coragem, disse à sua mãe: "Quero casar-me com essa Cangurita!".

10. A Mamã Cangurita derramou uma lágrima ao mesmo tempo que lhe dizia: "Filhote, queres abandonar-me por uma canguru qualquer? É esta a paga por tudo o que passei e fiz por ti?"

11. Proíbo-te de casares! Proíbo-te de casares!

12. E Cangurito assim fez... Não se casou. E quando a Mamã Canguru morreu, tiraram o Cangurito da bolsa da defunta. Era um animal muito estranho! O seu corpo era pequeno, como o de um recém-nascido, mas a sua cara tinha rugas, como se ele fosse já um animal muito velho.

13. Quando Cangurito tentou pôr-se de pé, no chão, o seu corpo ficou coberto de suores frios. E Cangurito disse assustado: "Tenho medo do chão... tudo parece mexer-se à minha volta!"

14. Os familiares de Cangurito meteram-no num tronco de uma árvore e ele passou o resto dos seus dias com a cabecita de fora do tronco da árvore.

No “Ofício de Pais”, o mais difícil não é dar vida aos filhos, mas sim, dar-lhes a liberdade!

Friday, January 28, 2005

A realidade despenha-se sobre mim; 500 palavras para um blog

A realidade despenha-se sobre mim.
A virtude recusa-se a partilhar o seu copo de absinto comigo, rejeita tocar meus lábios secos e gretados pelas palavras gastas e abusadas. Não mais irei vislumbrar a sua face azulada, anóxica de tanto tempo passar de nariz empinado, convencida que estará sempre de ser a luz do mundo, se não passasse ela de um pobre candeeiro kitsch e com a tinta estalada, onde os cães vão despudoradamente marcar território, alheios à sua inoxidável e impassível atitude.
O ódio, sempre que me vê, lança uma estrépitosa e desiquilibrada gargalhada, de tão admirado que fica por um ser tão débil e transparente bater-lhe à porta a pedir favores. “Mas quem é que tu pensas que és?!” E eu fico à porta, como um peixe cuspido pelo mar a estrebuchar na areia seca, a enterrar-se rapidamente fruto das convulsões do cruel desespero a que foi lançado. Só, arrasto-me penosamente dali p’ra fora, para longe daquele nauseabundo mesquinho que se ri de mim, com a boca escancarada a mostrar os dentes podres e escassos. E enquanto rastejo, arrasto comigo a imagem da virtude a mirar-me de soslaio, bebericando com arrogância o seu copo de éter verde fumegante.
E o amor? Ah, como se diverte o amor às minhas custas, a esvoaçar feliz por entre as chamas que irrompem do meu corpo manietado ao poste com que fui sorteado no auto de fé da repulsa. Chego a sentir uma brisa muito ténue e breve sobre o meu rosto, à medida que as asas de afrodite volteiam sobre a minha cabeça, mas cedo percebo que tudo o que ela quer é avivar as labaredas, cujas línguas amarelas e vermelhas me lambem languidamente, com todo o tempo do tiquetaquear do relógio que marca o meu sacrifício.
Restas-me tu, infame desespero... Ao menos sabes como me consolar, aninhando-me no teu peito velho, seco e vazio, amamentando-me com o leite espumoso da auto-indulgência e da miséria, acariciando-me o cabelo com os teus dedos longos como as horas da madrugada, acalentando-me com o teu bafo tépido de enganos e ilusões mastigadas, envolvendo-me no teu manto denso de paranoia e esquizofrenia. E eu encosto o meu ouvido ao teu coração para melhor escutar a sinfonia demencial dos antepassados inquietos, que insistem em aflorar para contar mais uma daquelas infindáveis estórias que faziam gala em matraquear ad nauseam, convencidos de que se conseguissem manter o olhar do espectador fixo nos seus olhos encovados e amarelentos conseguiriam leva-lo para o fundo do poço com eles, para que eternamente escutasse a sua verborreia maldita.
No entanto, repentinamente ergo a cabeça e sinto o sangue a fluir a toda a velocidade bem para o interior do meu corpo. Gelo. Fico hirto de horror. Pisco violentamente os olhos mas nada vejo. Arqueio ansiosamente o peito mas nem um sopro de ar me alimenta os pulmões. Não me mexo, mas giro lenta e compassadamente sobre mim mesmo enquanto flutuo sobre o abismo negro. Acordo! E a realidade esfuma os meus pesadelos.
28 de Janeiro de 2005
Der Uberlende

Tuesday, January 25, 2005

Grito de Vida

"Fui à floresta porque queria viver eternamente
E sugar a essência da vida!
Eliminar tudo o que não era vida.
E não, ao morrer, descobrir que não vivi
A maioria dos homens vive em silêncio desespero".
Henry David Thoreau

Cidadania; 500 palavras para um blog, by Der Igel

Aqui vai mais uma resposta ao desafio 500. Desta vez foi o Der Igel que deu expressão ao seu delírio. Aqui vai!
Der Uberlende

Cidadania

Amo esse amor com que tu amas, como as serpentes que se envolvem nas camas. Frias, venenosas, tuas pernas públicas inacessíveis que transpõem todas as portas e matam, um a um, todos os homens. Amo essa ferida que não fecha, esse olhar que não te deixa olhar e arrepia e fere quem te desfere um sorriso ocasional.
És sexo casual, mulher de não amar.
Tens esse olhar de animal, de convite à predação de parasitas por reflexos de vidros que expõem e desnudam. Tens desse amor desistido, mulher banal, disponível, tão nua, tão morta. Expiras um mar convulso de ácidos que te sulcam as expressões do rosto, que corroem nas veias todas as modas, todas as serventias, todas as convenções. Tens tantos corações quanto restos, de relações, de lágrimas que pereceram, de livros que nunca se escreveram.
És vítima de ti, cidadania em dose certa.
És número de BI, com certa idade, estado civil, fotografia em pose certa. És em ti mesma uma prisão, escorpião vil truncado no ventre, vives entre sombras que se alimentam dos sonhos, és mãe deserta. És criança, puta, cidadania sobre os cadáveres do fim do dia. E insectos necrófagos ascendem-se na noite e invadem o corpo que é o nosso junto, em realidades múltiplas, múltiplos rostos, gritos de monstros que nos penetram com os sexos das avenidas, insecticidas, germes de sonhos que se atenuam em novelos de pénis massajados. Olhares sôfregos amontoados sobre cinzas de cigarros. Mãos sobrepostas em varões de autocarros. Bocas que buscam ar de onde nunca veio. Hormonas que se roçam no seio da volúpia, tatuada na carne imaginária e proibida que é comum e que é a tua.
Amo-te. Amo esse olhar com que não olhas. Esse mistério que não existe na tua vida. Esse morder de lábios que não são os de Scarlett ou de Angelina. Esse movimento com que fragmentas o espectro de homens rarefeitos. Anginas de peito galopantes, tromboses e overdoses, golpes fundos lancinantes, nos parapeitos dos teus dedos. És umbigo que vincula, veiculas pesadelos, és tornozelos que não findam e deslindam a brancura dos cabelos. És acção, transpiração, suores de Agosto, mosto de sexo e soma e saxo-que-não-pára e sémen cru e homem nu no azulejo e Tejo à tona de saliva e escara viva que não sara. És um enleio de carne grafitada, infectada com o nosso medo, a nossa dor e devaneio. És viagem pelo mundo no fundo dos recantos incertos de Lisboa. Mulher-insecto, fêmea soberana, soberba abstracção, gangrena, putrefacção que enlouquece todos os homens. E todos os homens te levam do autocarro para as suas casas, te violam em suas casas, te assassinam em suas casas. Todos os homens te procuram em canais da televisão, em sites da Internet, em bordéis depois das sete, em transformismos ao espelho. Foi lá que um dia te encontrei. No reflexo do homem que me olhava. Eras afinal a fêmea que lá havia. A essência. Para além de toda a minha demência. Para além de toda a cidadania.

24 de Janeiro de 2005,
Der Igel

Sunday, January 23, 2005

Pedro; desafio 500 palavras

Mais cedo do que previa acabei por escrever o meu texto de 500 palavras.

O Pedro tinha 14 anos quando tudo aconteceu. Começo por vos falar do ambiente em casa. Os pais tinham cursos superiores e pode-se dizer que viviam bem. Tinha mais dois irmãos, de 5 e 8 anos. Todos os anos a mobília dos quartos e da sala eram mudados e as paredes novamente pintadas. Ao entrar em casa parecia que não vivia lá ninguém! Tudo tão uniformemente disposto, jamais se via um objecto fora do lugar. Os pormenores chegavam a este ponto: os miúdos não podiam andar descalçados porque ao subir para os sofás iam roçar com os pés e sujar! Os pais iam sempre buscá-los ao colégio de carro e por isso o Pedro jamais andou a pé com os colegas. Vejam lá que aos 14 anos nunca tinha andado de autocarro! Desde cedo que cada um teve o seu computador porque os pais podiam dar-lhes tudo o que quisessem. Nunca pensaram que isso poderia contribuir ainda mais para a solidão de cada um.Os ideais de perfeição, de sucesso eram os que pervaleciam. O Pedro encaixava-se perfeitamente naquele esteriótipo de rapaz magricelas e borbulhento. Nos jogos de futebol era sempre o último a ser escolhido e enviado imediatamente para a baliza. Por mais que tentasse não se conseguia misturar entre os seus pares. Nesse dia o Pedro chegou a casa sentindo-se um monstro. Pegou no seu primeiro cigarro e colocou-o na boca, olhou para o espelho. De repente teve vontade de rasgar a face e escolher uma “normal”. Como se sentia idiota e parvo. Olhou para o telemóvel: Zero mensagens, no mail: Zero. Ninguém queria saber dele, ninguém se lembrava sequer da sua existência. Atirou-se para cima da cama, e olhou para o “Admirável Mundo Novo” de Huxley que andava a ler. Lembrou-se da frase que tinha lido na véspera “as pessoas diferentes estão condenadas à solidão”. Sim, ele era diferente, anormal. Uma dor insuportável começou a crescer dentro do seu peito e era tão agonizante que quase o sufocava. A única coisa de positivo que tinha na sua vida eram as notas escolares. Mas de que serviam elas quando se está sozinho no mundo? Como gostava de ter um amigo, um , não pedia mais... Percorreu a lista telefónica do telemóvel. Nenhum nome para quem pudesse ligar. E a dor ia crescendo.... teve que se levantar e andar de um lado para outro, parecia que ia rebentar, o corpo começou a tremer... “dói tanto, eu já não suporto mais viver, não consigo...”. Rompeu num pranto e enfiou-se debaixo da cama enrolado num cobertor. Sentiu frio, muito frio... e silêncio. Não estava ninguém em casa. O pai voltou para o escritório depois de o deixar em casa. Tentou falar-lhe mas o pai durante todo o caminho veio a falar ao telemóvel com clientes. Depois foi tudo muito rápido, em menos de um minuto foi a correr buscar todos os antidepressivos e calmantes da mãe e tomou-os, não sem antes deixar um bilhete:“Pais amo-vos do fundo do coração. Desculpem. Pedro.”

Conta-me a maior desilusão da tua vida; 500 palavras para um blog, by Stela

Foi com enorme agrado que receby esta contribuição da Stela para o "Desafio 500". Aqui vai:

- Conta-me a maior desilusão da tua vida.
Os olhos dela pediam-lhe. Mas a mão brincava com o anel de prata que trazia, e Jaime não teve vontade lhe contar a maior desilusão da vida dele.
- Não sei… Todos temos desilusões. As minhas são iguais às de toda a gente, nem maiores nem menores…
- Foi uma rapariga? – disse ela com um sorriso coquete nos lábios. Jaime detestou aquele sorriso, deu-lhe vontade de lhe esfregar lama na cara. No entanto, ficou ali, a observá-la enquanto ela contava a sua maior desilusão, algo sobre um rapaz de quem gostara e que a enganara. «Banal…», pensou.
- Coitada. Deves ter sofrido muito…- disse em voz alta.
- Fogo, se sofri. Até chorei, vê lá. Mas agora já não choro por ninguém, acho que os homens não são merecedores disso!
- Claro, percebo… Criaste couraça – ouviu-se a si próprio dizer.
Ela continuou, absorta na sua dissertação sobre os homens, enquanto ele a olhava entre o fascínio e a repulsa. Como era estúpida, as pulseiras chocalhando com cada exclamação que fazia, e puxando irritantemente o cabelo para trás da orelha, depois de passar a mão por todo o cabelo, deixando antever caracóis castanhos repletos de suavidade. Sorria, a ponta da língua a espreitar por entre os lábios, se achava algo engraçado, mas o olhar era como o de uma gata molhada a tentar manter a dignidade. Brilhante, arrogante, mas frágil, a estalar hipocrisia.
- Vá lá… Já partilhei tanto contigo… Conta-me!
«Mal te conheço», pensou ele, «E já sei tanto sobre ti».
- Ok… Eu conto. Eu estava totalmente apaixonado por uma rapariga. Começámos a namorar. Acho que chegámos a andar um ano. Um dia ela disse-me, assim do nada, que já não sabia se queria estar comigo, que eu não era o homem com quem ela queria estar daí a dez anos, que era muito inseguro…
A mentira foi como uma libertação. Todas as palavras que sempre tinha querido dizer, disse-as, juntamente com as que nunca quis ouvir.
- E duas semanas depois, vi-a aos beijos com um amigo meu, numa festa.... Agora diz-me lá se vale a pena sofrer por mulheres? – rematou, com uma tentativa do mesmo sorriso malicioso que lhe tinha visto no rosto.
- Que horror!! Desculpa lá, mas essa gaja também não te merecia!
- Pois, mas eu gostava dela…
Continuaram a falar de desilusões amorosas, e a esplanada onde estavam passou de cheia para semi-cheia, e depois vazia. Só eles numa mesa no meio da esplanada. O sol estava quase a pôr-se e a rapariga, com os braços à volta do corpo, tinha já pele de galinha. Ele levou-a a casa e não teve coragem, pensando que não tinha desejo, de a beijar na despedida.
- Então até à próxima! Xau… - disse ela, acenando uma última vez da porta do prédio.
Jaime pôs o rádio na sua estação favorita e começou a conduzir até casa. No caminho ocorreu-lhe que a sua maior desilusão era ele próprio.

22 de Janeiro de 2005,
Stela

Friday, January 21, 2005

500 palavras, desafio para um blog

Cara Booklover,

É com enorme honra que aceito o teu convite para participar livremente neste teu blog. Espero que a minha participação venha a ser digna da confiança que em mim depositas. Mas como podias esperar, jamais poderia aceitar o teu desafio sem propor outro em troca!
Então aqui vai: Desafio todos os bloggers, visitantes e aliens que aterrarem nesta mensagem a escrever um texto de inspiração absolutamente livre(!!!) MAS com 500 palavras, não mais, nem menos!
Tenho a certeza de que vão surgir contribuições interessantíssimas, inspiradas nas mais impressionantes ou simples experiências de vida. Só vos peço é que não travem em tabus, não embarquem em clichés dos vossos autores favoritos ou insistam em vícios de esforço por "deitar algo cá para fora que valha mesmo a pena!!". Sejam genuínos, autênticos, dispam-se de preconceitos, recusem o estilo ou forma que pensam que deveriam ter e escrevam como vos der mais prazer, mais raiva, mais inquietude... mais paz!
As nossas cabeças estão cheias de vozes que insistem em nos ocupar a atenção. Sintonizem a vossa. Tem 500 palavras para oferecer à vossa alma?


intensamente vosso,

Nuno, a.k.a. Der Uberlende


Estudar para os exames

Enquanto passo os dias a estudar para os exames, este poema persegue-me......

Liberdade
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa

Thursday, January 20, 2005

era capaz de jurar que já te tinha visto; 500 palavras para 1 blog

O meu amigo Der Uberlende "ficou contaminado pelo meu desejo de escrever" e mais uma vez me trouxe uma lufada de ar fresco com o texto que segue. Quando o acabei de ler peguei automaticamente na caneta e comecei a escrever. Considero-o o meu mestre da escrita criativa. Aqui vai,
"...era capaz de jurar que já te tinha visto!
Estranha relação esta, entre os meus dedos e os teus sonhos, entre a minha dor frígida e a melopeia mórbida ritmada pelo teu coração. E como sabes tu tanto sobre mim? Como descreves vívidas as memórias dos dias cremosos que passamos entre braços alheios? Poderei eu ainda ser um dos candidatos, desses que esperam pela morte no aconchego da tua miséria? Desfaz-me em pó, deita-me no teu chá de ervas colhidas das cinzas dos montes antes verdes, agora secos como as lágrimas que já não vertes!
Toda a gente te deseja agora, mas a mim resta-me banhar-me com os pingos de saliva que escorrem da boca dos teus adorados. E eu, que prometi um dia oferecer-te o meu espírito, para que dele fizesses pano e vestido para saíres em procissão, devota ao monstro inominável que te criou, a ti e àquelas pessoas como tu: belas e arrogantes, belas e inatingíveis, belas e omnipresentes nos sonhos dos mortais... E eu sou apenas mortal, enquanto tu, meu amor, vives para além desta triste amálgama de unhas, pele, entranhas e ilusões que é o meu corpo, vives para além do viscoso sangue que jurou asfixiar-me no mesmo dia em que jurei amar-te!
E agora, que posso eu escrever sobre ti? Agora não há tinta que seja tão negra quanto a minha agonia, papel tão alvo como a neve gelada que me atasca o caminho, e desejo... que fiz eu ao desejo, eu que desejava tanto, que te desejava tanto, que tanto desejava não parar de desejar, .. deixei-o perecer, qual sereia encalhada na mais conspurcada doca, cheia de bêbedos e putas a dançar em cima das tábuas rangentes que escondem o corpo putrefacto da menina-peixe, golfinho encalhado em terra seca. E eu não sei o que escrever sobre ti, pois és erva daninha que alastra nos meandros do meu cansado cérebro, és mil milhões de minúsculos insectos que empestam o ar que respiro, és o veneno que eu quero injectar, és a terra molhada que insiste em me denunciar, marcando os meus passos onde quer que vá, avisando os corvos que não tarda mais uma carcaça irá tombar, és o meu mais obscuro medo e violento anseio, és a minha menina perdida na floresta, e eu não soube ser lobo para te devorar!...
Agora, estou no mesmo sítio onde me deixaste, feito um espantalho a esbracejar e a afugentar os malditos pássaros que de mim zombeiam, pois eu daqui não saio! E os meus pensamentos afundam-se como se afundou o teu corpo nesta campa que agora visito. E é no granito do anjo que mandei que te esculpissem que ficou guardado para a minha alma, pois nunca mais irei precisar dela, quero tornar-me um anémico e deambulante fantasma, aguardando pelo anúncio da última trombeta, à espera do momento em que tudo finda, à espera de voltar a ter-te nos meus braços...
Malditas todas as horas que me dizem que não te voltarei a ver!!!


19 de Janeiro de 2005,
Der Uberlende
Obrigada Der Uberlende.

Wednesday, January 19, 2005

3 desejos; 500 palavras para 1 blog

Após ler o meu texto "Vazio", um amigo enviou-me o seguinte mail,
"Fiquei com vontade de contribuir para o teu blog, encheste-me de vontade de escrevinhar coisas..."
Então aqui vai a trancrição do texto que Der Uberlende me enviou:
"3 desejos....
Tão simples a proposta como gélido o vidro que me corroeu as veias de pavor! Amargo ácido que me adocicou os ouvidos com a tua voz de delicia decadente. Queria eu que te calasses, tão lesta quanto o foste em me matar com tanto beijo. Mas não, insistias em rasgar a noite e romper o fétido silêncio que entretanto pairava, filho bastardo de um cigarro inacabado, criança caída do colo seguro de sua mãe velhaca e preconceituosa. Afinal quantos esqueletos cabem no armário, mamã?!? E ecoava, ressoava, entoava, meu dEUS, explodia-me a cabeça com a violência do teu último frémito inquisidor! “Não tens mais nada para viver, pedaço de gente inútil!??”
Soube-me divinalmente, desprezar-te e fingir que nada eras para mim. Regozijei-me com a tua neoplásica maneira de te tornar tão óbvia, tão bucolicamente obvia, que ainda agora penso que, se o Diabo à terra viesse, e se aqui mesmo onde estivemos nós decidisse tornar-se tendeiro por uma temporada de feira, jamais se tornaria tão oco e macilento quanto a tua autoridade sobre mim se tornou. O que tínhamos nós a perder?!? O que nos resta ao fim do dia, ao fim da noite, depois deste doloroso e prolongado parto negligenciado, por ébrias enfermeiras assistido? Quem decidiu que era hora de cortar o cordão umbilical e cerzir a camisa de forças, feita do mais alvo linho das plantações daquela gente velhinha que se foi definhando pelas geiras dos montes, ainda o arrogante general romano por lá pateava. E agora, tenho as mãos sujas de tanta palavra horrível esconder por debaixo delas, os meus lábios enchem-se de cieiro do arfar misantropo que adoro destilar no meu revolto e impaciente estômago, ... Ah, e há uma coisa nova, que ainda não te contei, mas que estava à espera que fizesses esse teu ar de senhora bem parida: inércia! Estava mesmo para te convidar para o funeral do meu ódio, pois com o descerrar da cortina da encenação (sei lá eu de que modo é que alguém poderá algum dia chamar a isto) familiar, vi com os olhos da carne e da alma o quão errada estaria em odiar... Aliás, haverá sentimento mais desperdiçado do que o ódio? É como insistir em bater com os cornos num carvalho, tão estático, rijo e enrugado como o teu coração, tão cheio de pequenos segredos, bisbilhotices e inconfidências que até o papa-beatas do padre cá do sítio se ia envergonhar de o ouvir, se não tivesse com as trombas tão encharcadas do “sangue-do-cordeiro”.
E agora, sento-me à tua beira e sei que tenho 3 desejos... Então aqui vão:
Um. Quem me dera que as rosas que me mostraste no jardim da tua casa antiga ainda fossem tão vermelhas quanto eu me lembro delas;
Dois. Quem me dera não ser autista nos meus pensamentos, e que permitisse sempre o turbilhão quente e sincero das emoções motivadas pelo amor rodopiar incessante no meu peito;
Três. Quem me dera não ter esperado pela morte para te/me falar...

18 de Janeiro de 2005,
Der Uberlende "
Quando conseguir apreender toda a dimensão das suas palavras, farei um comentário!

Tuesday, January 18, 2005

Vazio

Cá dentro sempre existiu apenas o vazio. Uma qualquer força que veio não sei de onde ou de quê asfixia todas as minhas tentativas de imaginar, conceber e criar. O processo de crescimento é tão lento, moroso e subtil que me sinto a progredir em nada, dia após dia. Como uma âncora velha e naufragada que se perdeu algures... Este desejo de criar sempre foi tão profundo em mim... mas as capacidades tão pequenas e limitadas! Qualquer criação é dolorosa, eu sei, e não me importo de passar por ela mas para quê? os resultados serão sempre parcos, fracos e a saber a nada. Algo cá dentro está aprisionado e quando tento descer até às profundezas para o libertar encontro o vazio. O vazio. Sempre o vazio. A noite chega e a dor torna-se mais clarividente, tranformando-se num remoinho que me tortura a existência. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Dependência

O objectivo do ser humano é (ou devia ser!) crescer mentalmente e espiritualmente neste jogo que se chama vida. Acontece que quando alguém descobre esta verdade e começa verdadeiramente a entrar no seu próprio processo evolutivo é, às vezes, impedido de continuar devido à dependência afectiva que gerou por outra pessoa. Uma das definições de dependência que me parece mais acertada é a sugerida por Scott Peck. Este define a dependência como “a incapacidade de se sentir realizado ou de agir adequadamente sem a certeza de que se é motivo de cuidado por outra pessoa”. Devemos distinguir a dependência patológica da dependência saudável e indispensável a todo o ser humano. A primeira é doentia e manifesta um problema mental. A segunda apenas revela que todos nós temos carências afectivas e gostamos de ser acarinhados pelos outros assim como que tomem conta de nós. Felizmente estas necessidades não regem e não são responsáveis pela nossa qualidade de vida. Caso contrário seríamos todos dependentes passivos.Outra ideia generalizada e enraizada é que dependência é amor. Nada mais errado! Ouvimos frequentemente o marido dizer que não conseguiria viver sem a mulher ou que se ameaça suicidar se for rejeitado pela amante. Isto não é amor é parasitismo. “Quando precisa de outra pessoa para a sua sobrevivência, é um parasita dessa pessoa. Não existe escolha nem liberdade na vossa relação. É mais uma questão de necessidade do que de amor. O amor é exercício da escolha livre. Duas pessoas sentem amor uma pela outra quando são capazes de viver uma sem a outra mas escolham viver uma com a outra.”As pessoas dependentes passivas estão tão empenhas em sugar o outro para se sentirem amadas que não lhes resta sequer energia para amar verdadeiramente. O seu interior é um poço sem fundo que tentam desesperadamente encher com outra pessoa. Não suportam a solidão, falta-lhes sempre qualquer coisa e nunca se sentem realizadas. Estabelecem relações muito superficiais, embora vividas intensamente, porque facilmente sufocam a outra pessoa que se sente apertada, asfixiada, sem espaço. Por vezes fixam-se de tal maneira nos outros que começam a ter comportamentos anti-amor e a tomar atitudes manipulativas, maquiavélicas, tudo para não deixarem fugir a outra pessoa. Devido à sua sede de atenção tornam-se desonestos e agarram-se a relações desgastadas quando as deviam renunciar. Os dependentes passivos quando finalmente são rejeitados pela pessoa que asfixiaram mudam rapidamente o seu foco de atenção para futuras vítimas porque não interessa de quem dependem desde que dependam de alguém. Deste modo saltam de pessoas em pessoas e consequentemente de relações desgastadas e esgotadas para outras que vão acabar da mesma maneira. Tudo isto gera um ciclo vicioso do qual muito dificilmente se sai. É preciso na maior parte dos casos pedir ajuda especializada de forma a conseguirem disciplinar rigidamente a ansiedade de que sofrem. O amor e a segurança são adquiridos pelo preço da liberdade de forma a permitir o desenvolvimento de ambos os indíviduos. “Um bom casamento só pode existir entre duas pessoas fortes e independentes”.
Para acabar vou deixar-vos uma das melhores citações que já li sobre a dependência.
“Olhe, permitir-se ser dependente de outra pessoa é a pior coisa possível que pode fazer a si mesmo. Estaria melhor se fosse dependente da heroína. Enquanto estiver fornecido, a heroína nunca o deixa ficar mal; se lá estiver, fá-lo-á sempre feliz. Mas se está à espera que outra pessoa o faça feliz ficará interminavelmente desiludido”.

Saturday, January 15, 2005

Ler muito

Não interessa para nada a quantidade de livros que se lê! se não se lerem verdadeiramente, com "olhos de ver". Posso já ter lido muitos livros sem nunca ter lido realmente nenhum...

Estou que nem posso...

Tenho o cócix todo dorido! Queria responder a todos os comentários feitos individualmente aos últimos posts mas estou demasiadamente cansada para aguentar muito tempo em frente ao computador. É só estudar, estudar, estudar... memorizar, memorizar, memorizar... criatividade, capacidade crítica, aonde? em lado nenhum... raio de ensino que só priviligia os alunos esponja! tantos posts que queria escrever... sobre assuntos e ideias que me tem vindo à cabeça e também sobre coisa nenhuma... melhores dias virão...
ps- obrigado a todos que passam por aqui e deixam a sua marca.Quando a temporada de exames passar estarei mais activa, espero eu!

Tuesday, January 11, 2005

Natacha

A Comunidade S. Francisco de Assis, em Coimbra, acolhe crianças desde os 2 anos e por aí adiante, vítimas de maus tratos: abusos sexuais, espancamento, fome e outras atrocidades que nem nos passam pela cabeça... É uma mini aldeia global. Têm oito casinhas de madeira onde vivem as crianças (juntam os mais velhos com os mais novos). Durante a semana cada casa tem uma empregada que vai fazer a limpeza e a quem os miúdos frequentemente chamam mãe. São crianças muito agressivas sem regras e normas de conducta absolutamente nenhumas. A madre Teresa (uma senhora de 74 anos que é a directora) contou-nos que demoraram um ano e meio para conseguirem que um menino ficasse 1 min sentado numa cadeira, imaginem!. Existem psicólogos, assistentes sociais e professores que ocasionalmente vão lá. São ao todo 79 crianças mas quando eu lá fui (abril de 2004) estavam poucos, só aqueles que não conseguiram enviar para campos de férias porque não havia espaço e/ou dinheiro para eles, como a madre disse ficaram os que “sobraram”. Metade das crianças são africanas. E isto foi mais ou menos as informações que nos deram, a seguir fomos (eu e o meu grupo de voluntariado) ao encontro deles.

De repente começaram a saltar crianças das janelas, a voar sapatilhas, alguns no telhado a passear!!! Estavam a acordar e curiosamente não costumam utilizar a porta para sair de casa. Até que os mais pequenos (5,6,7,8 anos) ganham coragem e aproximam-se de nós. Em menos de 1 minuto estava com duas meninas agarradas ao meu pescoço, miúdos a darem-me a mão... Queriam o nosso colo, abraços, atenção, miminhos... tanta carência afectiva, corações vazios, por preencher, sedentos de amor... Fiquei emocionada, petrificada, nunca imaginei tal situação... até uma rapariga de 17 anos não me largava o pescoço! Estava imobilizada por estas crianças... correspondi imediatamente distribuindo beijinhos, abraços, carinho, afecto... crianças de 4 anos!!! Sem ninguém para à noite lhes dar um beijinho, aconchegar-lhes a manta e dizer-lhes que os amam. A madre contou-me que há pais que se dirigem aos filhos pequeninos e lhes dizem directamente que os odeiam, que não querem mais saber deles...

Foi então que apareces-te Natacha... tens 14 anos, eu dava-te 6 anos! Quando te tiraram dos teus pai, apenas à cerca de 1 mês (estávamos em Abril) estavas a morrer à fome... Tens o maxilar para a frente, estás subdesenvolvida... Tinha medo de te tocar, tu afastavas-te e olhavas para o chão. Nunca, desde que nasci, estive frente a frente com alguém assim... a madre disse-me que tu e o teu irmão Ivan desde que foram acolhidos ainda não tinham ido a casa devido à infestação de pulgas. Pensei que isto só existisse na televisão, não queria acreditar no que estava a ouvir... Ainda te consegui dar a mão e falar algumas vezes mas foi difícil porque fugias como um coelhinho assustado. De repente senti-me uma pessoa muito má, egoísta, mesquinha... Sempre a queixar-me por problemas superficiais e irrelevantes... enquanto tu passavas fome!
Usavas um camisolão porque evidentemente tinhas frio, não tens gordura no corpo (nem sei se tens sequer carne!) e por isso sentes frio, muito frio... O teu irmão Ivan está quase como tu, embora ligeiramente melhor, e enquanto as outras crianças ainda se rissem de vez em quando, tu Ivan és um menino muito triste, apático, com uns olhinhos que tentam esconder o sofrimento por que passas-te. Puxámos por ti, penso que te conseguíamos divertir de vez em quando mas depois regressavas ao teu mundo de tristeza e solidão...
Minha querida Natacha resolves-te tirar a camisola, pregaste-me um susto de morte quando te viras-te de costas e vi escancarado na t-shirt que vestias, a letras gigantes "Life is a fun". Não sabes inglês e por isso não imaginas o que trazes nas costas. "Life is a fun" Natacha, no mundo não existem só pessoas más...Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun.... Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is...Life is a fun... Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is...Life is a fun... Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is...Life is a fun... Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is a fun...Life is...Life is a fun...

"Ninguém vai fazer isto por mim"

-Excertos de uma entrevista a Gonçalo M. Tavares no Mil Folhas de 08 de Janeiro 05-

Força, solidão, confiança. Gonçalo M. Tavares passou 12 anos a acordar às cinco e meia da manhã para escrever, sozinho.

Parece haver uma certeza cristalina, imediata, na forma como impede a dispersão. Isso implica um reconhecimento rápido do que interessa.
(...) Há uma inteligência ou um instinto, que tem a ver com isto: faz sentido eu mobilizar a minha inteligência para aqui? Acho que este é o instinto principal. Dizer muitos "nãos" e dizer um ou dois "sins" claramente. Desde os 18 ou 19 anos, disse um "sim", e tudo o resto são "nãos".

O seu "sim" dos 18, 19 anos foi o da escrita.
Da escrita, da leitura.(...) É importante defendermo-nos das urgências. Temos de ter uma metralhadora, de dizer o "não" com uma arma apontada para a pessoa, que até pode de estar de boa vontade, perceber que o nosso "não" é forte. Saber dizer o "não" também é saber defendê-lo, e estar preparado para sofrer as consequências.

Qualquer pessoa poderá partilhar o que diz. Mas o que parece invejável é como tão cedo soube qual era o "sim", e depois o defendeu com disciplina.
É a consequência do "sim". Não adianta dizer "sim" sem autodisciplina – será um "sim" pequeno.

"Nada de religioso, nenhum Deus", é estar sozinho, vivo. Esta consciência: tudo depende de mim, da minha força.
Sim, ter a noção de que ninguém vai fazer isto por mim. É muito difícil uma pessoa aos 20, 21 anos levantar-se cedo. Tem a ver com força e solidão. Se uma pessoa depende de alguma coisa exterior, perde a força. Estou a falar em termos de escrita, de leitura, não da vida pessoal. Se eu dependesse de alguém me dizer, aos 21 anos, "gosto muito dos teus textos", estava a colocar a possibilidade de continuar nas mãos daquela pessoa. Fiz grande parte do meu percurso de escrita totalmente sozinho.

Por que diz que ultimamente se sente indisciplinado?
Uma coisa é escrever, outra é voltar a olhar, e há sempre um intervalo muito grande entre ambas.(...)

O que me angustia é gastar energia e no final ir embora e não ficar nada. (...)

Respeito muito os filósofos, mas os filósofos querem encontrar o caminho. A mim interessa-me encontrar uma série de caminhos, as ideias não como hipótese de verdade mas como hipóteses.

Está a juntar na mesma massa competências técnicas, fáceis de avaliar, com competências artísticas, com a criação.
Claro, mas em qualquer área se uma pessoa não tem confiança no que faz não é possível fazer coisas interessantes. Como é que se arrisca? Arriscar tem a ver com confiança. Uma pessoa sem confiança vai tentar repetir, fazer igual aos outros, não cometer erros, que é uma ideia muito valorizada. Mas o erro está ligado à descoberta. É fundamental não ter medo nenhum do erro. O que é o erro? Eu tinha previsto ir numa determinada direcção e não fui, errei. O erro é encontrar alguma coisa, algo que se cruza com o novo, o criativo.

?

Quando te aproximas o meu corpo fica imobilizado, as minhas mãos tremem, o meu coração dispara e eu fico sem saber o que dizer, o que pensar...


"And love is not the easy thing
The only baggage you can bring...
And love is not the easy thing...
The only baggage you can bring
Is all that you can´t leave behind"
U2

Friday, January 07, 2005

Requisito de um chefe

Encontrei esta preciosidade num caderno da 4ª classe da minha mãe. Numas folhas amarelecidas e bafientas:
Quando o corpo humano se formou democraticamente pela primeira vez, as partes do corpo queriam ser chefe.
O cérebro democraticamente foi o primeiro a dizer: - Como sou o orgão que controla tudo e sou o único capaz de pensar e decidir, tenho que ser o chefe!
As pernas disseram: - Nós conduzimos o corpo, portanto temos de ser nós o chefe.
A boca disse: - Eu é que recebo a alimentação que vai dar origem à criação das energias necessárias para o funcionamento do cérebro e para movimentação das pernas, consequentemente eu sou o chefe.
O coração, os pulmões, os ouvidos, enfim todas as partes do corpo queriam ser o chefe. No auge da discussão ouviu-se uma vozinha que disse, muito baixinho, “serei eu o chefe”. Era o cú que normalmente dava a sua opinião. Todos caíram numa autêntica gargalhada, como poderia o cú ser o chefe?
Foi um autêntico gozo!!!
O cú ficou furioso e retirou-se da reunião recusando-se a trabalhar e como protesto deixou de cagar. Poucos dias depois, o cérebro estava febril, os olhos estavam pálidos, os pulmões e o coração expressavam-se mas já não aguentavam. As pernas estavam quebradiças. Enfim o mal era geral. Em consequência desta situação efectuaram uma reunião de emergência, implorando que o cú fosse o chefe, caso contrário o corpo morreria.E efectivamente foi aprovado por maioria esta proposta: TODO O CORPO TRABALHAVA E O CÚ CHEFIAVA. Era uma cagada atrás de outra cagada.
Moral da História: - Para ser chefe neste país não é necessário ter cérebro, basta ter cú.

Wednesday, January 05, 2005

O Demónio e a SENHORITA PRYM

De Paulo Coelho tinha lido “O Alquimista” e “Verónica decide morrer”. Tinha posto fim a Paulo Coelho porque pelo que me tenho informado a catadupa de livros que têm saído não vale nada. Paulo Coelho é um escritor de plágios, basta ter lido algumas obras de referência para encontrar todas as ideias nos seus livros. Até parece que a história de “O Alquimista” foi roubada de uma pessoa que mais tarde o processou. Mas não posso precisar isto, posso até estar errada,apenas me lembro de ter ouvido falar vagamente neste assunto. Mas entretanto uns amigos ofereceram-me no Verão passado “O Demónio e a Senhorita Prym”, obra para reflectir sobre o bem e o mal. Tentando abstrair-me da ideia de ter sido escrito por PC tentei gozar com a leitura, pensar, aprender mais. Acho que o livro deveria ser mais longo para abarcar toda a narrativa. Acrescenta muitos factos logo de ínicio e como não li o livro seguido no dia seguinte tinha de voltar atrás para relembrar alguns factos essenciais para conseguir acompanhar. Aborda a temática do bem e do mal. Viscos, uma aldeia esquecida, recebe a visita de um viajante que trás o demónio consigo. A partir daqui as pessoas vão ser tentadas a escolher o caminho do bem ou o mal. É interessante, destaco as seguintes passagens:

"Bem feito. Desempenhar o papel de alma caridosa era apenas para os que tinham medo de tomar atitudes na vida. É sempre muito mais fácil acreditar na bondade do que enfrentar os outros e lutar pelos seus direitos. É sempre mais fácil ouvir uma ofensa e não revidar do que ter coragem para se lançar num combate com alguém mais forte; podemos sempre dizer que não fomos atingidos pela pedra que nos atiraram, e só de noite – quando estamos sozinhos e a nossa mulher, ou o nosso marido, ou o nosso amigo de escola, está a dormir – só de noite é que podemos chorar em silêncio a nossa cobardia."

Eu também tenho a mania de me armar em boazinha frequentemente e por causa disso já chorei muitas vezes sozinha deitada silenciosamente. Por vezes o melhor é mesmo não fazer nada! Mas também não podemos deixar ser esmagados em pó!

"O teu problema não é exactamente a justiça de Deus – disse o homem – Mas o facto de que escolheu ser sempre a vítima das circunstâncias. Conheço muita gente nessa situação.
-Como você por exemplo.
-Não. Eu revoltei-me contra algo que me aconteceu, e pouco me importa se as pessoas gostam ou não das minhas atitudes. Você, pelo contrário, acreditou no papel de órfã, desamparada, alguém que deseja ser aceite a qualquer custo; como isso nem sempre acontece a sua necessidade de ser amada transforma-se num desejo surdo de vingança."

Quantas vezes não é mais fácil deixarmo-nos ser vítimas das circuntâncias? Desempenhar o papel de coitadinha e sentirmo-nos amadas e protegidas e sentir que alguém toma conta de nós. FALSA ILUSÃO! FELICIDADE ESPORÁDICA! RAPIDAMENTE DESAPARECERÁ E AINDA MAIS FUNDO CAIRÁS DO ABISMO.................

Monday, January 03, 2005

Mãezinha

MotherPink Floyd, album "The wall"
Mother do you think they'll drop the bomb?
Mother do you think they'll like this song?
Mother do you think they'll try to break my balls?

(eu) Mãezinha achas que eles vão ser maus?
Mãezinha achas que eles me vão deixar ser feliz?

Mãezinha achas que eles me vão sufocar?

Mãezinha achas que eles me deixarão ser um deles?

Mãezinha achas que eles não me vão pôr de fora?

Ooooo Mother should I build the wall?
Mother should I run for president?
Mother should I trust the government?

Mãezinha achas que devo tentar entrar em medicina?

Mãezinha achas que devo tentar tirar as melhores notas?

Mãezinha achas que continuo a ser a mais bonita?

Mother will they put me in the firing line?
Ooooo Is it just a waste of time?
(Ooooo Mother am I really dying?)
Hush now baby, baby, don't you cry.
Mother's gonna make all your nightmares come true.
Mother's gonna put all her fears into you.
Mother's gonna keep you right here under her wing.
She won't let you fly, but she might let you sing.
Mama's gonna keep baby cozy and warm.
Ooooh babe ooooh babe oooooh babe,
Of course mama's gonna help build the wall.

Obrigado mamã

Mother do you think she's good enough -- for me?
Mother do you think she's dangerous -- to me?
Mother will she tear your little boy apart?
Ooooo Mother will she break my heart?

Mãezinha és capaz de me escolher o namorado?

Mãezinha não o deixas magoar-me?

Mãezinha achas que ele anda na droga?

Mãezinha podes escolher-me a roupa para levar amanhã?

Hush now baby, baby don't you cry.
Mama's gonna check out all your girlfriends for you.
Mama won't let anyone dirty get through.
Mama's gonna wait up until you get in.
Mama will always find out where you've been.
Mama's gonna keep baby healthy and clean.
Ooooh babe oooh babe oooh babe,
You'll always be baby to me.
Mother, did it need to be so high?

Obrigado amiga,

“Se não fores capaz de entortar O teu destino,
Não serás mais que um apartamento alugado

Henri Michaux

O que eu ouvi!

Em Lisboa, numa loja com brinquedos,

O filho para o pai : “Ò pai eu quero isto!”

O pai: “Tu queres é levar um par de estalos nessas trombas”

E eu a pensar que só cá para cima, nas zonas mais rurais é que se ouvia coisas destas!


 

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