Prémio; 500 palavras para o DCP por Der Überlende
Ordo Rosarius - Equilibrio In high Heels through Nights of broken Glass (Cocktails Carnage Cruxufixion And Pornography)
Bjork – An echo, a stain (Vespertine)
ou
Cranes – Joy Lies Within (Self-Non-Self)
Prémio
o tempo passa, indiferente
e corta toda a esperança rente
deixando apenas alguns restos
de corpos, sons, faces e gestos
a mim resta marcar o passo
enquanto o tempo aperta o laço
escorrega o nó corrediço
abre a porta do passadiço
deixa entrar a fria aragem
que lava toda a coragem
de homens, crianças e animais
apaga impressões digitais
rasga tudo o que era eterno
despreza o céu e ri-se do inferno
marca a mágoa corta a alma
torna violenta a noite calma
esquece o som, a palavra dissente
entra neste ritmo decadente
entra neste carrossel
assume agora o teu papel
entra na dança segue o som
esquece o que é o mau e o bom
não és mais um ser diferente
és mais outro indigente
marioneta nas mãos do mestre
deixa que a besta te adestre
sê mais um, mais um de tantos
encanta-te com os teus encantos
sorri agora para a foto
enquanto deslizas para o esgoto
sorri outra vez, mas sê honesto
esse sorrisinho que eu detesto
o ódio é o teu melhor amigo
tem-no sempre aqui contigo
o amor é uma ilusão
que não cabe na tua mão
viver é apenas uma charada
crês em tudo, não crês em nada
e à medida que cresces acreditas
nas palavras que te foram ditas
por este, aquela, aquele e ninguém
recolhes ao útero da tua mãe
aninhas-te à espera que tudo acabe
temes que o teu mundinho desabe
te caia na cabeça e te parta os cornos
te despoje do dinheiro e dos adornos
tão úteis que são no ‘outro mundo’
é a isso que te agarras a cada segundo
queres comer, foder e dançar
agarrar na teta e continuar a mamar
até o leite sair escuro e vermelho
e o teu sangue ficar mirrado e velho
e quando pensares que acabaste
ainda agora começaste
e piscas os olhos a olhar para o nada
e onde pensas encontrar a entrada
encontras a saída deste sono profundo
donde rastejas só, aterrorizado e imundo
mas quem sou eu para te condenar
quem és tu para me negar
quem sois vós para esticar o dedo
embrulhados num misto de raiva e de medo
quem és tu para dizer quem eu sou
como ousar negar o que te dou
como podes dizer que não existo
negar-me em nome de um tal cristo
condenar-me a um poço de enxofre e chamas
quando sou tudo aquilo que tu amas
matéria, carne, sabor e orgasmo
aceitas tudo com entusiasmo
não te ouvi queixas enquanto engordavas
nem lamúrias enquanto teu ouro contavas
não me apercebi da tua candura
quando aos teus crimes dei total cobertura
engraçado que agora me peças a soluçar
por amor do outro para te libertar
do compromisso que antes te deliciava
sem te queixares que a tua alma era escrava
é o prémio final do meu investimento
é apenas o início do teu tormento
é a conquista de tudo a que tenho direito
é o prémio merecido do meu crime perfeito
30 de Agosto de 2005,
Der Überlende